Investigação do potencial biológico de compostos da casca do fruto de Annona squamosa Linn
Diterpeno, Doenças crônicas não transmissíveis, Produtos naturais, Bioprospecção
Annona squamosa Linn, popularmente conhecida como pinha, ata ou fruta-do-conde, é uma planta frutífera encontrada no Brasil, com maior cultivo no Nordeste, sendo muito produzida nos estados de Alagoas, Bahia e Pernambuco. Tem sido reportado, na medicina popular, que algumas de suas partes, como folhas e sementes, apresentam potencial biológico. Contudo, há poucos estudos sobre a casca deste fruto, a qual perfaz quase 50% da massa do fruto. Isto indica que aproximadamente 1.500 toneladas de cascas são desprezadas no meio ambiente anualmente. Deste modo, este trabalho tem por objetivo avaliar o potencial biológico de compostos extraídos da casca do fruto de Annona squamosa Linn. Para isto, amostras de pinha foram coletadas nos municípios de Recife, Taquaritinga do Norte e Petrolina, todos no estado de Pernambuco, para extração e purificação a partir de extração a frio, partição líquido-líquido e cromatografia em coluna. Os referidos extratos e frações foram caracterizados por cromatografia de camada delgada associados a reações para os diversos metabólitos primários e secundários. Ademais, os materiais promissores foram submetidos à cromatografia líquida de alta performance, cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas ou ressonância nuclear magnética. Então, foram realizados testes in vitro e in vivo para o estudo de bioprospecção, sendo os principais a avaliação analgésica pelos testes de contorção abdominal, formalina e placa quente; avaliação anti-inflamatória pelos testes de edema de orelha, edema de pata e peritonite; e, atividade antidiarreica. Amostras de Recife passaram por extração em ciclohexano, clorofórmio, acetato de etila, metanol e água. Destes, os extratos alcoólicos e aquoso foram os mais promissores em rendimento (acima de 20 g) e na quantidade de diferentes metabólitos secundários. Assim, foi realizada comparação do perfil fitoquímico e de rendimento nas três localidades investigadas, e os achados indicaram que não há diferença importante no rendimento, nem no potencial analgésico. Então, as demais extrações ocorreram com amostras coletadas em Recife. O extrato aquoso rendeu 10 frações após corrida em coluna de sephadex, e as frações com maior conteúdo fenólico apresentaram potencial anti-inflamatório, reduzindo o edema de pata (90 %), edema de orelha (92 %), dor (75 %) e marcadores inflamatórios (Interleucina-6, fator de necrose tumoral e óxido nítrico). O extrato alcoólico, por sua vez, foi particionado e submetido a coluna de sílica. Uma de suas frações apresentou caráter cristalino e foi identificada como o composto ácido caurenóico, este foi utilizado para investigação do potencial antidiarreico, e apresentou promissora atividade, reduzindo o número de fezes (74 %) e a quantidade de líquido no trato gastrointestinal (60 %), atividades estas associadas às vias opioide e K-ATPase. Desse modo, os achados do presente estudo indicam alto potencial da casca do fruto da pinha para a bioprospecção, com efeitos analgésico, anti-inflamatório e antidiarreico.