Progresso e conservação: O Programa Campina Déco
Programa Campina Déco, Conservação Urbana, Art Déco Sertanejo
A dissertação tratará dos processos que envolvem o Programa Campina Déco, ocorrido na cidade de Campina Grande, Paraíba, entre as décadas de 1990 e 2000, com a intenção de rememorar e voltar o olhar da sociedade para a importância do patrimônio construído presente na área central e da necessidade de revitalizá-lo a fim de fazer um resgate aos ideais de progresso e desenvolvimento tão inerentes ao tempo dessas construções. Diante disso, levantamos como hipótese que o discurso em prol da preservação do patrimônio, diante à uma revitalização, é uma bandeira para justificar e ocultar as ações de grupos detentores dos poderes políticos e econômicos em higienizar a área para que possa melhor servi-los.
Entende-se que a presente pesquisa é fruto do envolvimento entre o poder público (Prefeitura Municipal de Campina Grande-PMCG), do setor privado (representados pela Associação Comercial) e pela academia (Universidade Federal de Campina Grande- UFCG). Essa união se inicia diante do interesse de um dos candidatos a gestor público, que obtém êxito em comandar a Prefeitura, sobre os estudos da designer e professora da UFCG, Lia Mônica Rossi, em relação as fachadas das construções presentes nas cidades do interior do Nordeste, datadas entre o período de 1930-1950, do qual diante à composição formal assemelhar-se ao Art Déco que ela batiza como Art Déco Sertanejo e ao chegar à cidade ao final da década de 1980 para iniciar suas atividades profissionais em Campina Grande, reconhece que essa tipologia também se faz presente aqui. E em seguida recebe a adesão do setor privado que almeja melhoramentos para o centro da cidade, com ênfase na retirada dos vendedores ambulantes presentes em frente às vitrines de suas lojas.
Desse modo, o objetivo do trabalho é analisar os interesses, intenções e conflitos que se encontram disfarçados mediante a proposta de revitalização e preservação do patrimônio histórico da cidade, entendendo as ações de cada ator envolvido, às suas perdas e ganhos, incluindo o patrimônio edificado nessa equação.
Para a construção desse trabalho, a fim de elucidar as questões levantadas acerca desse processo, está sendo realizada revisão bibliográfica para apreensão dos conceitos teóricos pertinentes, pesquisa documental nos arquivos municipais e jornais responsáveis por divulgar as ideias e ações do Programa e entrevistas com atores dos diversos seguimentos envolvidos.
Como forma de estruturar a pesquisa, o trabalho será organizado em três capítulos. O primeiro trata dos conceitos pertinentes ao art déco na arquitetura brasileira, apresentando sua conceituação e difusão do estilo e realizar uma distinção entre o art nouveau, o art déco e o protomoderno dentro do quadro da produção arquitetônica nacional.
O capítulo 2 será contemplado com a trajetória de Lia Mônica Rossi, relatando sua formação e primeiras experiências, sua viagem ao Nordeste e descoberta da particularidade do estilo arquitetônico ali produzido em uma determinada época e por fim, as concepções e dilemas presentes na denominação Art Déco Sertanejo.
O terceiro capítulo iniciará com o panorama da eleição municipal e gestão que elenca o Programa como uma de suas ações de plano governamental. Seguido da descrição do Programa Campina Déco propriamente dito, contemplando a metodologia de prospecção do patrimônio, plano de ações para a revitalização das fachadas e projetos urbanos. Após essa descrição será apresentado os conflitos desse recorte temporal e territorial. Por fim, o capítulo trará uma análise crítica sobre a revitalização à luz da teoria da conservação como também um balanço de perdas e ganhos ocorridos para os diferentes atores envolvidos no processo.