Labirintos e segredos ficcionais de Juan Carlos Onetti:a saga de Santa Maria
Onetti; narrativa; Santa Maria.
O presente trabalho tem o propósito de escrutinar a narrativa de Juan Carlos Onetti, em particular o chamado ciclo de Santa María. De início, pretendíamos fazer uma abordagem teórica, em especial a partir de ideias relacionadas ao barroco e ao clássico, para analisar o conjunto de textos sanmarianos. O propósito precípuo era o de melhor compreender, a partir da díade clássico-barroco, algumas características centrais da escritura do autor, a saber: a intertextualidade – ou a auto referencialidade que, de tão intensa, beira uma proposta de obra literária total -, a metalinguagem – falamos de uma literatura que analisa a criação literária enquanto se cria – e a reescrita ficcional obsessiva sobre simulacros, dualidades e embustes; algo que já foi chamado jogo da impostura. Tal iniciativa está presente no estudo, contudo a plurivocidade de potenciais interpretações dos escritos do autor e a complexidade narrativa que se revelou nos fizeram partir para uma jornada muito mais ensaística, na tentativa de conseguir uma maior aproximação com uma proposta literária tão particular. Onetti é um escritor que dedicou a vida – mais de 60 anos dela, ao menos – para escrever uma ficção sobre a precariedade dos nossos discursos, personagens, histórias e narrativas; e o fez através da criação de discursos, personagens, histórias e narrativas tão precários quanto, mas com a clara consciência de sua condição. Trata-se de uma narrativa que se pretende total, mas elaborada sobre as faltas, as ausências, os mal-entendidos e as falhas. No curso do texto, portanto, buscamos uma miríade de paralelos que nos possibilitassem algumas compreensões de uma construção literária que, de um lado, traz a modernidade e as vanguardas para a literatura hispano-americana e, de outro, tenta arranhar a superfície da abstrusa (e absurda) condição que alguns chamam de existência. Para tanto, dedicamo-nos longamente a analisar os textos do escritor à luz da literatura do final do século XIX (recorrendo a autores como Tolstói, Conrad e Henry James), das vanguardas literárias do começo do século XX (com evidente destaque para Faulkner), da literatura rio-platense do período (com toda atenção para Arlt e Borges) e até mesmo da literatura contemporânea. O resultado alcançado foi uma espécie de longo ensaio literário sobre narrativa de Onetti.