O lado oculto do idealismo absoluto
G. W. F. Hegel – tradição mística – estados alterados de consciência.
A presente tese busca incidir no campo da interpretação geral da filosofia de G. W. F. Hegel, desenvolvendo uma linha presentemente minoritária nos estudos hegelianos: a abordagem de Hegel como m pensador Místico, esotérico, alinhado a tradição mística ocidental. A base do nosso entendimento de Hegel como Místico será a sinonímia declarada pelo filósofo entre o especulativo (das Spekulative) – o cerne racional (vernünftig) do idealismo absoluto – e o que na antiguidade se chamava de Místico (das Mystische), enquanto conteúdo da consciência religiosa. A partir dai, faremos dois movimentos complementares. 1) Seguiremos o apontamento de Hegel e investigaremos o que era chamado de Místico na antiguidade, para ganhar com isso uma perspectiva externa sobre o que ele chamou de especulativo. Veremos então que o Místico era originalmente o segredo ritual dos cultos de Mistério, aquilo que só se conhecia via iniciação, e argumentaremos em seguida que o segredo envolvia centralmente o que hoje se costuma chamar de “estados alterados de consciência” ou “experiencia extática”. Com essa chave em mãos, voltaremos a Hegel para fazer o principal desenvolvimento desse primeiro movimento, afunilando a abordagem genérica de Hegel enquanto Místico: compreender o conteúdo especulativo, o pensamento espiritual, a Razão mesma no sentido hegeliano do termo, como um êxtase intelectual. 2) O segundo movimento tratará não da experiencia mística/especulativa, mas de sua interpretação e prática. Se essa experiencia e “atemporal”, sua interpretação (pela tradição), de outro modo, contém um desenvolvimento interno, e esse desenvolvimento, não menos histórico do que teológico, e igualmente fundamental para o sentido tradicional da experiencia, para o sentido do Místico. Na antiguidade, destacaremos três momentos: os cultos de Mistério, a filosofia e o cristianismo. E então, no interior do cristianismo, discerniremos o que chamaremos de “tradição cristã heterodoxa”, o desdobramento da tradição mística que formou a civilização moderna – e se consumou filosoficamente em Hegel.