Representações Sociais da gestação entre homens trans
Teoria Social; Minorias Sexuais e de Gênero; Gravidez; Enfermagem; Educação em Saúde.
A gestação é concebida pela sociedade ocidental como uma possibilidade
“improvável” para o “homem trans”, visto que se trata de pessoas constituídas pela ideia de
“abjeção”, promovendo uma “esterilidade ou castração simbólica” compreendida como um
processo de negação do direito a escolha de quando e como engravidar ou exercer a sua
parentalidade. Objetivou-se com este estudo conhecer as representações sociais da gestação
entre homens trans, por meio de estudo qualitativo, descritivo e exploratório, ancorado pela
Teoria das Representações Sociais de Serge Moscovici e seguidores, com sete homens trans
gestantes ou que vivenciaram a gestação, selecionados por conveniência e disponibilidade,
definindo-se a amostragem pelo critério de saturação teórica, vinculados às instituições de
referência para a população LGBT: Aliança Nacional LGBTI+, Ambulatório LGBT Patrícia
Gomes (Recife – PE, Brasil) e Coordenação de Atenção Integral à Saúde LGBT do Estado de
Pernambuco (SES/PE). A produção de dados empíricos ocorreu de setembro a outubro de
2021, pela plataforma Google Meet, a partir de entrevistas on-line com roteiro
semiestruturado, após a aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética e Pesquisa
(CAAE: 47777421.0.0000.5208). A análise textual lexicográfica das entrevistas transcritas e
validadas pelos participantes foi pelo método Reinert de classificação de segmentos de texto e
instrumentalizada pelo software IRAMUTEQ versão 7.0. O corpus de análise foi composto
por sete textos, submetidos à análise por obtenção da Classificação Hierárquica Descendente,
com 92,75% de aproveitamento, gerando 4 classes e nomeadas à luz da Teoria das
Representações Sociais. A Classe 1 foi denominada “Descoberta da gestação e suas
implicações”, a Classe 2 “Relações familiares, solidão e falta de apoio”; a Classe 3 “Sentidos
e experiências durante a assistência à saúde” e a classe 4 “Modificações corpóreas e
estratégias de ocultação da gestação”. As representações sociais da gestação entre homens
trans envolveram um amplo campo de significados, em que foram articulados seus esforços
em “aceitar” a gravidez oportuna, o estabelecimento de relações familiares constituídas por
uma afirmação social deste “corpo grávido masculino”, gestação como “experiência
solitária”, medo do processo de parturição e influência das mudanças físicas e emocionais
proporcionadas pela gravidez.