Medicamentos contendo colecalciferol: Avaliação dos usos e limites na terapêutica – uma abordagem sob a perspectiva do Uso Racional de Medicamentos (URM)
Vitamina D3. COVID-19. Controle analítico de qualidade. Saúde Baseada em Evidência. Uso Racional de Medicamentos
A hipovitaminose D é um estado de carência nutricional da vitamina D que possui uma prevalência estimada em aproximadamente um bilhão de pessoas em todo o mundo. Ao mesmo tempo, relatos de caso envolvendo intoxicação por vitamina D, têm sido cada vez mais publicados na literatura. Neste cenário clínico tão antagônico, que impõe novos desafios aos profissionais de saúde, o uso e dispensação deste medicamento, sob à luz da Saúde Baseada em Evidência (SBE), se mostra de fundamental importância, sobretudo frente a pandemia provocada pelo novo coronavírus. Neste sentido, este trabalho teve como objetivo avaliar a qualidade dos medicamentos magistrais contendo colecalciferol e examinar a atuação do farmacêutico comunitário, no que diz respeito à Prática Baseada em Evidência envolvendo esta vitamina, sobretudo no contexto da pandemia da COVID-19. Adicionalmente, buscou-se promover diversas estratégias educativas para o uso seguro e racional da vitamina D3. Dados de vendas, de 2017 e 2020, de uma rede de farmácias magistrais da Região Metropolitana do Recife foram tratados e integrados aos resultados do controle de qualidade de 18 formulações magistrais avaliadas por um método analítico validado. Em seguida, foi realizada uma pesquisa descritiva, do tipo transversal, cuja coleta de dados ocorreu por meio de um inquérito on-line anônimo autoadministrado, via plataforma Google formulários®, que foi enviado para os farmacêuticos do Estado de Pernambuco. Consultas a bases de dados seguras foram realizadas a fim de estabelecer uma abordagem crítica diante dos dados obtidos e promover estratégias para o uso responsável da vitamina D3. Foi verificado um aumento no número de vendas de medicamentos magistrais contendo colecalciferol isolado, em 2020 quando comparado a 2017, acompanhando uma tendência nacional. As prescrições contendo colecalciferol foram prescritas por mais de 40 diferentes profissionais de saúde habilitados, principalmente como monofármaco, na forma farmacêutica cápsula dura oral e em esquemas posológicos conforme recomendados pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. No entanto, a suplementação adequada de vitamina D, deve passar, dentre outros aspectos, pela qualidade da formulação administrada, e, neste sentido, todas as formulações avaliadas apresentaram teor abaixo do limite especificado, o que levaria a uma possível inefetividade terapêutica. Com relação a percepção dos farmacêuticos comunitários durante a pandemia, 58% dos profissionais relataram se sentir obrigados a dispensar algum medicamento e 64% deles afirmaram ter dispensado vitamina D3 especificamente para prevenir ou tratar COVID-19, ainda que sem estudos clínicos bem embasados, evidenciando uma dispensação irracional. Os farmacêuticos também mostraram se apoiar em ferramentas com baixo poder de evidência científica para se informar e se atualizar a respeito da COVID-19 e da vitamina D3. Adicionalmente, ficou evidente a falta de conhecimento sobre os termos técnicos relacionados à SBE, o que compromete a compreensão de estudos científicos. Pode-se inferir que o serviço de Atenção Farmacêutica não é realizado de forma adequada. Assim, materiais orientando a prescrição, dispensação e o uso racional de vitamina D3 foram desenvolvidos à fim de garantir sua prescrição, dispensação e uso responsável.