O RESCALDO DA CANA: inflexões decoloniais sobre a colonialidade do saber retratada na região cultural do Nordeste Agrário do Litoral por Manuel Diégues Júnior
Regiões Culturais. Manuel Diégues Júnior. Decolonialidade. Colonialidade do Saber. Nordeste Agrário. Decolonialidade.
A presente tese tem por objetivo reconhecer, decodificar e traduzir, a partir da perspectiva decolonial, a colonialidade do poder e do saber expressas na cartografia que consta no livro “Regiões Culturais do Brasil”, apresentado pioneiramente pelo antropólogo Manuel Diégues Júnior, em 1960. Ao analisar a caracterização realizada do Nordeste Agrário do Litoral, uma das regiões culturais elencadas pelo autor e espaço regional central nesta pesquisa, a tese identifica construções intersubjetivas que descrevem e caracterizam a região, reportando à concepções cristalizadas no imaginário coletivo e amplamente carregadas de preceitos forjados no saudoso e romantizado passado colonial canavieiro, ao qual tem em Gilberto Freyre como um dos principais expoentes e forte influenciador na obra de Diégues Júnior. Ao se verificar na obra sinais evidentes de orientações que remetem ao lusotropicalismo, buscou-se ativar o seu processo desconstrução narrativa mediante a ótica decolonial e reposicionar posturas deslocadas de seu tempo que ainda insistem na manutenção de normativas que soam retrógradas para os contextos hodiernos. Sendo assim, ao traçar um roteiro que se inicia na arquitetura do Orientalismo de Edward Said, passando pela modernidade-colonialidade ocidental, ancorada nas investigações de Walter Mignolo e Santiago Castro-Gómez - este último também relevante por apontar a colonialidade no campo epistêmico do Saber - aporta no conceito de Colonialidade do Poder, elaborado por Aníbal Quijano. Ao utilizar o referencial teórico do geógrafo Rogério Haesbaert e discorrer sobre a região enquanto Artefato - composta tanto por sua face realista/fato quanto pela construída/arte - procura apontar caminhos que possibilitem erigir uma nova epiderme sobre as regiões culturais no Brasil, em particular no Nordeste Agrário do Litoral. Agora, pela perspectiva decolonial. É a busca por esse “Rescaldo da Cana” o elemento motriz em que orbita a revisão literária nesta tese.