O QUE NOS CONTA A PRÁTICA DE EMPODERAMENTO DE MULHERES NEGRAS NO CONTEXTO COMERCIAL DO AGRESTE PERNAMBUCANO?
Negras; Consumo Ativista; Dispositivo de Empoderamento; Cotidiano; Análise de Discursos Foucaultiana.
Sendo a cultura um processo político constante de produção de significados em experiências sociais e o consumo um momento das práticas cotidianas, os indivíduos constroem cultura popular na interface entre a vida cotidiana e o consumo. A cultura popular é produzida pela resistência dos desempoderados frente às ideologias dominantes, gerando os ativismos. Esses movimentos objetivam transformar a ordem social por meio do consumo e recorrem ao fortalecimento do empoderamento. O empoderamento é uma prática social reconhecida pela complexidade, por envolver a autonomia e pela centralidade do conceito de poder. Apoiados em Michel Foucault, nesse trabalho consideramos o empoderamento como um dispositivo, uma rede heterogênea de elementos operada por meio de saberes, cuja ação acontece atrelada a outros dispositivos, em situações escalares - micro e macro, e históricas - síncronas e diacrônicas. Portanto, a experiência de empoderamento é pautada em ideologias arraigadas no cotidiano dos envolvidos que se desdobram no consumo, envolvendo linhas de força que potencialmente promovem processos de: veridição, jogos de verdade, subjetivação e objetivação, sendo capazes de fabricar realidades e sujeitos como efeito das relações saber-poder. Nesse trabalho nos voltamos para as práticas de empoderamento da negra, em uma cidade do Agreste conhecida pelo ativismo da causa antirracista, para desvelar a operacionalização dessa rede de forças e sua relação com os comportamentos ativistas. Nosquestionamos: Que saberes embasam a prática do empoderamento do ativismo da negrana cidade de Caruaru? Nosso arquivo foi formado por 1586 documentos coletados nas redes sociais Facebook, Instagram e Twitter, no período de janeiro de 2020 a agosto de 2022. Visando contemplar as orientações ideológico-políticas do movimento ativista antirracista, coletamos as práticas de empoderamento divulgadas por agentes institucionais, consumidoras e ativistas locais. Os documentos foram submetidos a análise de discurso foucaultiana, desvelando três formações discursivas: A objetivação da negra normaliza e disciplina a sujeição; A construção coletiva de valores promove processos de subjetivação desviantes; A ação praticada sobre si nas dinâmicas de subjetivação constituem uma forma-sujeito ética possível. Concluímos que a compreensão de fenômenos ideológicos, como é o caso do consumo ativista, só é possível se investigados em suas causas, que são históricas e cotidianas.