PODER E RESISTÊNCIA NA GESTÃO ORDINÁRIA DE UMA ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL (OSC) DE CARUARU-PE: UMA ANÁLISE CERTEAUNIANA
Gestão Ordinária, Práticas de Resistência, Relações de
Poder/Saber, Organizações da Sociedade Civil (OSC), Cotidiano Ordinário.
A pesquisa objetivou compreender como se dão as relações de poder/saber e as
práticas de resistência na gestão ordinária de uma Organização da Sociedade Civil
(OSC) de Caruaru-PE. Utilizamos o conceito de “gestão ordinária”, pois buscamos
entender como a gestão da entidade realmente acontece, para além dos processos
formalizados. Discutimos, ainda, o conceito de “cotidiano ordinário”, de Michel de
Certeau, composto de histórias e operações heterogêneas, em que os sujeitos se
utilizam de estratégias e táticas para sua produção e reprodução. Utilizamos a ideia
de “poder relacional”, inspirado em Michel Foucault, para entender como, por meio
das relações, o poder é permeado/expresso na estrutura social. Como metodologia
para operacionalizar a pesquisa utilizamos observações participantes, pesquisa
documental e entrevistas semiestruturadas, ao acessar a organização pesquisada.
Os achados foram tratados de forma interpretativista, por meio da tríade
hermenêutica da análise narrativa apontada por Barbara Czarniawska. Alicerçados
nessa nessa discussão, os achados da pesquisa demonstraram que a entidade
possui uma infinidade de práticas ordinárias, que são constituídas por meio dos
praticantes que dela fazem parte. Acessamos onze práticas cotidianas que nos
possibilitaram perceber que os sujeitos fazem uso de diversas estratégias e táticas
certeaunianas, ao construírem suas “maneiras de fazer”. Portanto, ocupam lugares e
espaços (CERTEAU, 1998), diferentes, pois o cotidiano é rico de possibilidades de
subversão às normas impostas, pelo fato dos indivíduos, em determinados
momentos, mesmo que momentâneos, estarem numa posição de produção e/ou
consumo. Destacamos a prática da resistência, da educação popular, enquanto
principal inspiração para a educação, além da “lógica de ação” (CERTEAU, 1985),
de uma gestão participativa e descentralizada. Constatamos estratégias e táticas
(CERTEAU, 1998), relacionadas ao ensino e à organização das aulas da Educação
Infantil e das oficinas de arte educação, ao planejamento cotidiano dos/as
profissionais, à prática de cozinhar e, consequentemente, a todo o cotidiano
ordinário da organização estudada. Constatamos relações de poder/saber,
principalmente, em relação aos saberes/fazeres práticos construídos ao longo de
suas trajetórias pessoais e profissionais, presentes em todos/as os/as profissionais.
Contudo, dois deles/as tiveram destaque por ocupar um lugar privilegiado na
entidade. Finalmente, contribuímos teoricamente ao enxergar que as narrativas dos
sujeitos ordinários e suas práticas cotidianas são importantes, ao pensar gestão,
essencialmente, por analisarmos outras racionalidades possíveis e particularidades
da realidade local de uma OSC do agreste pernambucano.