“Fiz o contrário do que se esperava”: uma análise da Ação Empreendedora Cultural de Kleber Mendonça Filho no Cinema Brasileiro à luz dos Estudos Culturais
Ação Empreendedora Cultural; Estudos Culturais; Cinema Brasileiro; Kleber Mendonça Filho.
A sociedade tem passado por transformações socioculturais nas últimas décadas em
decorrência de mudanças estruturadoras no campo tecnológico, essas transformações são
responsáveis pela reestruturação da relação produção-consumo, o que acarreta em
alterações nos padrões de sociabilidade. No momento em que a cultura passa a fazer parte
da arena organizacional, novas formas de produção e comercialização de bens simbólicos
emergem. O empreendedorismo cultural assume a criação de valor subjetivo como
elemento imanente para a implementação e estabelecimento de negócios culturais, uma
vez que a produção de bens simbólicos é determinada por significados sociais a ele
atribuídos, que despertam no consumidor associação e identificação por meio do
consumo. Artefatos de comunicação e entretenimento, como o cinema, refletem os
processos de ressignificação e adaptação do consumo midiático, uma vez que sua
expansão está atrelada à massificação de bens culturais propiciada pela técnica de
reprodução capitalista, assim, surge a necessidade de investigarmos o modo como
funciona o mercado cinematográfico, precisamente aquele focado no empreendedor
cultural de cinema. A partir de uma abordagem qualitativa de cunho interpretativista, sob
o arcabouço teórico dos Estudos Culturais, utilizamos o modelo teórico-metodológico do
“circuito da cultura” para tentar compreender como ocorre a ação empreendedora cultural
do diretor, roteirista, crítico e cineasta Kleber Mendonça Filho no cinema brasileiro, por
meio da Análise Crítica do Discurso. As formações discursivas emergentes da análise
desvelam o protagonismo desse realizador fílmico no sentido de articular recursos
preexistentes com a sua subjetividade para desenvolver e disponibilizar bens e serviços
culturais. Dessa forma, visualizamos um empreendedor cultural que se relaciona com as
artes e por meio delas estabelece diálogos com o seu interlocutor, com a sociedade,
evidenciando as tensões inerentes à arena cultural e artística. A formação de um ambiente
de produção marcado pela colaboratividade é inerente ao setor do cinema, evidenciando
nuances de uma prática produtiva cada vez mais interativa, afastada da figura do sujeito
atomizado do mundo bussiness, apontando para a necessidade de expansão produtiva que
viabilize uma esfera organizacional profissional e especializada. Esses avanços apontam
para a emergência de práticas empreendedoras em função de uma demanda de
ressignificação dos formatos de consumo, da articulação social, de capital humano e
financeiro, bem como o incentivo à reflexão crítica diante de políticas públicas de
assistência ao setor de cinema e de como esse sistema ainda precisa ser estabilizado para
subsidiar produção de qualidade, bem como salientar a importância de valorização da
arte, dos artistas e da cultura, subvertendo a lógica utilitarista da força do capital,
ressignificando o ponto de vista conferido ao fenômeno empreendedor cultural.