Impactos do derramamento de petróleo de 2019 na Costa Pernambucana: a macrofauna do fital como indicadora
Bentos, Recife de coral, Poluição, Óleo
Os recifes coralíneo-algálicosda Praia do Paiva (PE) possuem importante cobertura fitobentônica e abrigam diversas comunidades de macrofauna associadas. Esses ambientes foram um dos mais atingidos pelo derramemento de petróleo na Costa Brasileira iniciado em 2019. O presente trabalho teve como objetivo utilizar a macrofauna do fital como indicadora dos impactos desse desastre ambiental nas comunidades epibentônicas da Costa Pernambucana. De julho de 2019 a outubro de 2020, foram coletados mensalmente nos recifes da Praia do Paiva (exceto em março de 2020) dez frondes das algas Penicillus capitatus e Jania capillacea, respectivamente, além de mais duas coletas em 2021 (abril e outubro) e uma em julho de 2022. A nível populacional, a abundância de espécimes do tanaidáceo Chondrochelia dubia coletados entre julho de 2019 e julho de 2020 associados à alga vermelha Jania capillacea correlacionou-se negativamente com a precipitação mensal, com maiores abundâncias nos meses mais secos. Houve uma inesperada queda significativa na abundância em setembro, possivelmente causada pelo contato com o petróleo bruto, mas a população se recuperou totalmente em dois meses, demonstrando ser uma espécie resiliente e de caráter oportunista, com parâmetros de crescimento (Linf, k) e de maturação (L50) baixos se comparados aos de outras espécies de Tanaidacea. A nível de comunidades, a epifauna das algas como um todo não sofreu quedas expressivas de abundância logo após o contato direto com o óleo, porém alguns grupos como Syllidae e Janaira gracilis provavelmente sofreram com o impacto, enquanto a abundância de poliquetas da família Sabellidae (em especial Branchiomma luctuosum) apresentou tendência de crescimento após o derramamento. As comunidades epifaunais de ambas as algas apresentaram respostas distintas em relação ao desastre, com perda imediata de táxons (principalmente espécies raras) no fital de J. capillacea e aumento de riqueza no fital de P. capitatus pouco depois do evento, voltando aos níveis normais em poucos meses. As abundâncias de alguns táxons também se correlacionaram significativamente à abundância de Amphipoda. Além de fatores abióticos, destacam-se a heterogeneidade de hábitat, a conectividade e a manutenção de espécies-chave engenheiras de ecossistema (em especial anfípodes) como fatores fundamentais para a resiliência e estabilidade das comunidades epifaunais após impactos ambientais como derramamento de óleo.