Experiências Educativas de Pessoas Negras Surdas e Construção de Identidades.
Identidade negra surda. Afrocentricidade. Educação das Relações Étnico-Raciais.
No bojo das questões sobre as identidades diversas, vem ganhando força o movimento de Surdos Negros no Brasil, o qual surge com a necessidade de se debater as problemáticas específicas enfrentadas por esses sujeitos em nossa sociedade. Estas questões estão intimamente ligadas ao pertencimento a uma comunidade específica que luta por direitos que vão além do reconhecimento linguístico. Assim, torna-se necessário abordar questões relevantes ao desenvolvimento da comunidade negra surda, tendo como base o reconhecimento e o respeito à dimensão relacionada ao “ser negro surdo”, encarando-os enquanto constituintes de uma língua, culturas e identidades legítimas. Nesse sentido, com a presente dissertação, objetivamos compreender quais experiências educativas marcam o processo de construção da identidade de estudantes negros surdos da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Dessa forma, foram realizadas e analisadas as entrevistas de estudantes negros surdos do curso de Licenciatura em Letras-Libras da referida instituição, a fim de investigar os processos educativos que perpassam o processo de construção identitária desses sujeitos. Para a construção da fundamentação da pesquisa tivemos como base a teoria da Afrocentricidade, sistematizada a partir de Molefi Kete Asante (1980). Assim, foi possível discutirmos a relação entre a Afrocentricidade, a Identidade e a Educação das Relações Étnico-raciais, traçando caminhos possíveis para entendermos de que forma as experiências educativas desses sujeitos atravessam suas vivências e marcam a sua identificação, considerando a importância de ter o povo negro no centro de sua narrativa, como agentes econômicos, culturais, políticos e sociais, para não mais serem mantidos enquanto marginais na sua própria história. Com o intuito atingir os objetivos propostos pela pesquisa tivemos a História Oral como metodologia para a realização de entrevistas narrativas com os participantes selecionados (MEIHY; HOLANDA, 2015), (ALBERTI, 2005). Ao entender que essa pesquisa exige interpretações que não podem ser quantificadas, nos fundamentamos sob uma abordagem qualitativa (MINAYO, 2001). Como resultado identificamos que as experiências que trazem a questão racial pouco aparecem, destacando-se apenas momentos pontuais em uma disciplina ou no mês da consciência negra nas escolas. Entretanto, estas não se mostram capazes de construir uma imagem positiva do ser negro ou até mesmo apresentar uma continuidade das experiências. Por outro lado, as experiências que são narradas a partir do ser surdo conseguem aparecer com mais frequência e serem desenvolvidas pelos entrevistados. Notamos, com isso, que a construção da identidade negra surda se dá de maneira ainda desigual, onde a surdez ganha destaque e possibilita um desenvolvimento mais aprofundado e consciente.