Violência, substantivo feminino: um estudo genealógico sobre as narrativas da violência contra as mulheres no Diario de Pernambuco
violência contra a mulher; mídia; discurso; gênero; poder.
O trabalho discute a construção discursiva da violência contra as mulheres na e pela mídia, a partir da análise de textos sobre o assunto publicados pelo Diario de Pernambuco entre 1969 e 2016. Como fundamentos teórico-metodológicos, empregamos as ideias de Orlandi (1999, 2017) e de Pêcheux (1998, 2014) sobre a Análise de Discurso e as reflexões de Nietzsche (2005, 2009) e de Foucault (1999, 2018) acerca do método genealógico de investigação histórica. Para debater o fenômeno da violência e suas manifestações mais específicas contra as mulheres e o feminino, mobilizamos conceitos de Nietzsche (2005, 2009), Arendt (1985), Butler (2020), Saffioti (2011) e Foucault (2014, 2018a, 2018b) sobre a matéria. Como resultados parciais, observamos que a luta pela significação se faz presente no discurso jornalístico desde as notícias sobre crimes passionais, moças seduzidas e “questões de honra” publicadas na transição dos anos 1960 para 1970 até o reconhecimento legal e midiático do fator de gênero nos assassinatos de mulheres nas primeiras décadas dos anos 2000. Percebemos também que, ainda que versem sobre um “mesmo” assunto, a cobertura midiática sobre as violências contra mulheres possui um componente contingencial, que varia em maior ou menor grau em função das convenções de gênero e de sexualidade de cada época, da formação discursiva que toma a palavra em cada caso e do status social e do comportamento pregresso da vítima e do autor do ato violento.