Narrar a si em relação: construção de intimidade e memória de documentaristas brasileiras
documentário; escritas de si; autoinscrição; memória.
Documentário subjetivo, documentário em primeira pessoa, documentário pessoal – designações que estão inseridas na mesma tendência contemporânea, que se acentua no século XXI: a centralidade do eu. Os filmes Os dias com ele (Maria Clara Escobar, 2012), Person (Marina Person, 2007) e Diário de uma busca (Flávia Castro, 2010) são alguns exemplos no documentário brasileiro de narrativas nas quais a autora se mune de práticas confessionais e se expressa se colocando em primeira pessoa. Estes são filmes em que, através da reconstrução de uma memória perdida de pais ausentes, as realizadoras narram suas próprias histórias – o narrar-se dialogando com o tornar-se. O objetivo dessa pesquisa é investigar de que forma as realizadoras estudadas utilizam o documentário para escrever e apresentar suas próprias histórias. Analisando os filmes, identificamos três estratégias principais: a autoinscrição das realizadoras (corpo e voz), a utilização de arquivos (imagens e documentos) e a construção de uma narrativa de si em relação (com o outro familiar). O elemento organizativo do discurso nesses filmes é a busca, essa força afetiva que leva as realizadoras a construir uma narrativa sobre seus
pais, sobre si mesmas e sobre a própria jornada em que estão inseridas.