Desenvolvimento de formulações com o óleo essencial de Eugenia brejoensis Mazine (Myrtaceae): estudo toxicológico, genotóxico e avaliação das atividades antinociceptiva e anti-inflamatória
Óleos essenciais; Complexo de inclusão. Microemulsões. Antinociceptivo. Anti-inflamatório. Segurança toxicológica
Eugenia brejoensis Mazine é uma espécie utilizada na medicina tradicional para o
tratamento de doenças inflamatórias, dores em geral e febre. Os óleos essenciais
apresentam atividades biológicas interessantes, entretanto, o seu uso na indústria
farmacêutica é limitado em virtude das suas propriedades físico-químicas. Sistemas
microemulsionados e complexos de inclusão molecular têm sido utilizados para
incrementar as atividades biológicas de óleos essenciais. Neste contexto, o objetivo
deste estudo foi desenvolver complexos de inclusão e sistemas microemulsionados
com o óleo essencial E. brejoensis (OEEb), avaliando o potencial antinociceptivo, anti-
inflamatório e a segurança biológica. Procedeu-se à complexação do óleo essencial
com β-ciclodextrina (por malaxagem e slurry) e à caracterização por técnicas
espectroscópicas, calorimétricas e microscópicas. Sistemas microemulsionados foram
formulados a partir de diagrama de fases, utilizando o óleo essencial (como fase
oleosa), surfactantes e co-surfactantes (1:1) e água ultrapura. Os sistemas foram
caracterizados por análise reológica, tamanho de gotículas, índice de
polidispersividade, condutividade elétrica, microscopia de luz polarizada e pH. Os
resultados da caracterização mostraram a complexação do óleo pelos métodos
malaxagem e slurry sem grandes variações. Entretanto a eficiência de inclusão do
complexo pelo método slurry mostrou-se mais interessante para os ensaios in vivo. A
atividade antinociceptiva nos modelos de contorção abdominal evidenciou um
aumento na inibição das contorções na administração do OEEb+ β-CD (77,22%) em
relação ao óleo livre (67,74%); no teste da formalina, o complexo atuou via sistema
opioide com aumento significativo nas fases de dor neurogênica (78,60%) e dor
inflamatória (91,15%) em relação ao óleo livre (53,60% e 75,21%, respectivamente). O
tratamento em edema de pata com o óleo e com OEEb+ β-CD reduziu em 70,24% e
97,03%, que foi acompanhado também pela redução nos níveis de TNF-α (52,63% e
54%) e IL-1β (65,76% e 74,10%) no modelo de peritonite aguda. A administração oral
do óleo essencial e do complexo de inclusão não apresentou toxicidade aguda, assim
como não indicaram potencial genotóxico no ensaio cometa e micronúcleo. A
toxicidade de doses repetidas por 28 dias revelou alterações histológicas nas dosagens
de 1000mg/kg e 500mg/kg. O sistema microemulsionado (ME 2) foi newtoniano (N=1)
com viscosidade constante, isotópico, com tamanho de gotículas de 18.69±0.04nm,
PDI 0,181±0.06 e pH 6.4±0.04. A ME 2 promoveu a redução da citotoxicidade do óleo
em 11% nos fibroblastos L929 e, na atividade anti-inflamatória tópica, em 87,5% do
edema de orelha. Na contorção abdominal, a ME 2 e o óleo essencial mostraram-se
promissores para analgesia tópica, com percentuais de inibição de 57,52% e 67,60%
respectivamente. No teste de movimento de calda, a morfina (8.75±0.20), o óleo
(6.66±0.32) e ME 2 (6.33±0.33) apresentaram resultados relevantes em comparação
com os valores do veículo ou microemulsão inerte. Os resultados obtidos validam o
uso tradicional de E. brejoensis sendo relevantes as formulações desenvolvidas para
aplicação em novas apresentações farmacêuticas.