Simulação; Qualidade de água; Balanço Hídrico.

O déficit hídrico é uma realidade no Brasil, mesmo em regiões onde há boa disponibilidade hídrica em função da poluição dos corpos d'água. Nesse contexto, a região Nordeste apresenta um agravante adicional, pois, além da distribuição irregular de corpos d'água, a região enfrenta desafios como alta temperatura e baixa pluviometria, na maior parte do ano. Então, a utilização de fontes alternativas de abastecimento de água se torna cada vez mais necessária. Dessas alternativas, destaca-se a utilização de água da chuva que, de forma recorrente, se concentra em alguns meses do ano. Amplamente utilizada nas regiões semiáridas devido à baixa pluviometria e à falta de sistemas convencionais de abastecimento, a água de chuva também pode ser utilizada em áreas urbanas, impactando diretamente na mitigação de outros problemas, como: alagamentos, deslizamentos e congestionamentos provocados pelo excesso de chuva combinados com a alta impermeabilização do solo. Para quantificar e observar os impactos do uso da água de chuva em zona urbana, especificamente em área de morro, foram realizados três balanços hídricos de oferta-consumo de água a partir de simulações de cenários no Córrego da Telha, que está localizado no bairro do Passarinho, zona oeste da cidade do Recife-PE. Na realização do primeiro balanço hídrico, foi verificada a oferta-consumo de água em uma única residência, onde foi considerado o abastecimento por água de chuva em dois intervalos de tempo: (a) intervalo anual de junho de 2021 a maio de 2022; e (b) intervalo com precipitação atípica nos meses de maio e junho de 2022. Para a segunda e terceira simulação foram realizados o cálculo de balanços hídricos considerando toda a bacia do morro e variáveis do ciclo hidrológico: precipitação, escoamento superficial, evaporação, evapotranspiração e infiltração. O que diferencia essas simulações foi a metodologia do cálculo do escoamento superficial, para a simulação 2 foi utilizado o método racional e para a simulação 3 foi utilizado o método SCS- CN, ambas foram realizadas em linguagem de programação em período quinzenais, sendo considerado para o 1° período de estudo chuvas atípicas (valor acumulado de 759,4 mm) e o 2° período, chuvas típicas de inverno (valor acumulado de 172,5mm). Essas simulações utilizaram informações derivadas de um mapeamento com emprego de aeronaves remotamente pilotadas (drones), que possibilitaram a classificação e a quantificação dos materiais que compõem as superfícies de escoamento da água precipitada. Por fim, foi realizado o monitoramento, ao longo de 13 semanas, da qualidade da água de abastecimento de três casas localizadas na área de estudo. Os resultados das simulações indicaram que o abastecimento com água de chuva poderia suprir a demanda em 48% e 81% dos dias, respectivamente para os intervalos (a) e (b), com percentual correspondente de retenção de água no lote de 48% e 21% ao analisar a simulação 1. Para a simulação 2, apresentou resultado de redução de cerca de 12% do volume precipitado para o 1° período de estudo (período de chuvas atípicas) e 45% para o 2° período de estudo (chuvas tradicionais de inverno). Para a simulação 3, as simulações apresentaram resultados de redução de 7% do volume escoado que deixa de ser lançado na rede de drenagem urbana para o primeiro período de estudo (chuvas atípicas) e cerca de 39% para o 2° período de estudo (chuvas tradicionais). Sobre a qualidade da água utilizada na área em estudo, observou-se irregularidade em todas as residências. Em uma residência no ponto mais alto do morro, que recebe abastecimento regular da companhia estadual de Pernambuco, o parâmetro de cor estava do permitido, em apenas uma coleta. Já na residência de meia encosta, cujo abastecimento é misto, recebendo água da companhia e de outras fontes externas, foi detectado a presença de Escherichia Coli e/ou coliformes totais em 2 coletas, e enquanto em residência localizada no sopé, que apresenta abastecimento somente por fontes de água subterrânea, houve presença de Escherichia Coli e/ou coliformes totais em todas as semanas do estudo. Desta forma, a utilização de água de chuva pode favorecer o abastecimento de água da região, atenuando a desigualdade de abastecimento e mitigação de problemas urbanos.