Por que alguns países conseguem melhorar a qualidade de vida da população e outros não? Uma análise do welfare state na América do Sul
Capacidade Estatal, Democracia, América do Sul.
Esta pesquisa analisa a variação da capacidade estatal em fornecer bem-estar à sociedade. A partir de um banco de dados original, examina-se o conjunto de fatores que influenciam o nível de welfare state na América do Sul. Para melhor compreender a trajetória institucional-histórica, complemento a análise com estudos de caso de países detectados como outliers.
As origens do estado de bem-estar estão no resultado do processo de lutas sociais pela proteção dos direitos e segurança em meio a revolução industrial (ESPING-ANDERSEN, 1990; ARRETCHE, 1995; SEGURA-UBIERGO, 2007). Uma grande parte da compreensão desse fenômeno pode vir de países em desenvolvimento, como os da América Latina e em países mais pobres e/ou mais desiguais, os sistemas de proteção social e de investimentos públicos em saúde e educação tendem a ser relativamente mais fracos (SEGURA-UBIERGO, 2007). Mas, apesar de terem desenvolvido seus modelos de welfare state, há uma variação significativa da capacidade do estado entre os países (SEGURA-UBIERGO, 2007; BÄCK; HADENIUS, 2008; BESLEY; PERSSON, 2010; SOIFER, 2015; CRUZ-MARTÍNEZ, 2021).
Alguns países, como Chile, Costa Rica e Uruguai, são considerados casos de sucesso por apresentarem sistemas mais avançados de proteção social (SEGURA-UBIERGO, 2007; CRUZ‐MARTINEZ, 2017). Pribble (2013) aponta que as políticas sociais são historicamente falhas na América Latina. Por exemplo, Soifer (2015) observa que, na Bolívia, a taxa de analfabetismo é cinco vezes maior do que no Uruguai e que no Chile, para cada criança não vacinada, há cerca de dez não vacinadas no Equador.
Os gastos sociais são usados largamente como indicador do desenvolvimento do Estado de bem-estar (SEGURA-UBIERGO, 2007; HUBER; STEPHENS, 2012; NIEDZWIECKI, 2015). Porém, as evidências mostram que eles não refletem a eficiência da aplicação, a qualidade e benefícios esperados. Tomando o Brasil, como um exemplo, ele possui um dos mais altos níveis de gastos com educação e um dos mais baixos desempenhos educacionais, comparado aos outros países da América do Sul[1]. Logo, compreender essa variação dos resultados faz parte desse estudo.
[1] Comparação feita na relação entre o nível de gasto com educação e o desempenho do PISA em proficiência em leitura, para Argentina, Brasil, Chile, Colômbia e Peru. Dados disponíveis em: (OCDE, 2001) e <data.worldbank.org/data-catalog/world-development-indicators>