Mediação Espacial: Edifícios como Mercadorias para Discursos de Exposições -
O Caso da Bienal de São Paulo (1957-2018)
Bienal de São Paulo. Edifícios. Espaço. Exposições. Mediação.
Esta tese defende o conceito de mediação espacial enquanto estratégias configuracionais de troca
entre pessoas e coisas que são particularmente evidentes em espaços expositivos – cuja função
principal é precisamente a de fomentar estas trocas. Em contraste com outros tipos de mediação, a
mediação espacial ocorre não por meio de educadores ou dispositivos tecnológicos, mas através do
sistema espacial que estrutura a interação entre conteúdos expostos e seus visitantes. Este conceito
caracteriza-se por uma lógica de dupla faceta que diz respeito à própria definição de espaços
expositivos – instalações para a troca que operam por meio da exposição de artefatos, para fins
culturais e econômicos. Estas duas facetas são compostas por pares de conceitos que abordam as
seguintes questões: 1) discurso e narrativa – que descrevem como as coisas estão dispostas no espaço
e como as mensagens embutidas neste arranjo podem ser interpretadas por meio da navegação
espacial; 2) commodity e capital – que representam o papel sintático e semântico do edifício na
definição de um sistema de trocas materiais e simbólicas. Estas duas facetas são objetivamente
representadas pelo layout de curta duração das exposições e pelo layout de longa duração do edifício
que as abriga. Tal fenômeno é investigado na Bienal de São Paulo (BSP), expressão que designa um
edifício (projetado por Oscar Niemeyer e equipe em 1954) e um conjunto de exposições (com 34
edições, 31 delas realizadas no mesmo pavilhão). Essa longa sobreposição entre edifício e exposições
fornece evidências robustas para a discussão proposta, que foram obtidas por meio de estudos
diacrônicos exploratórios (sobre 30 BSP, de 1957 a 2018) e por meio de estudos de casos específicos
estruturados (sobre 9 BSP). Estes estudos permitiram delimitar: a) o território em que a mediação
especial acontece – um sistema espacial aberto o bastante para suportar uma multiplicidade de
ocupações, mas fechado o suficiente para estruturar minimamente o movimento; b) como ela funciona
– por meio da transformação de um sistema espacial que é simultaneamente complexo e genérico em
um sistema altamente específico. O primeiro aspecto requereu o desenvolvimento de três modelos de
representação – complexo, genérico e específico, que descrevem os sistemas espaciais de edifício e
exposições com base em diferentes critérios, gerando com isso níveis distintos de configurações das
redes. E o segundo possibilitou a caracterização de dois tipos de mediação especial, exposição como
meio e exposição como fim, cujas características descrevem como os atributos e elementos que
constituem o layout da exposição estão situados em relação àqueles dos layouts do edifício, se dentro
dos seus limites ou se para além deles (relacionados aos conceitos de mercadoria e mercantilização,
respectivamente). Por fim, essa abordagem, que se baseia na distinção entre layouts perenes e
efêmeros, pode fornecer novas perspectivas de pensamento morfológico para a concepção e estudo
de usos e arranjos internos de outros tipos de edifícios e espaços.