trabalho doméstico; servidão; relações trabalhistas; diaristas

Na literatura atual sobre o trabalho doméstico em regime de diárias, destaca-se um menor vínculo afetivo e uma maior sensação de autonomia das diaristas em comparação com as mensalistas. No entanto, as diaristas ainda fazem parte do contexto do trabalho doméstico, historicamente caracterizado pela servidão, e não são protegidas pela legislação trabalhista do emprego doméstico. Ao analisar o contexto das mudanças estruturais no mundo do trabalho, como a reestruturação produtiva e a flexibilização das relações trabalhistas, há um discurso de empreendedorismo que enfatiza a autonomia, mesmo em relações precárias de trabalho e aquisição de direitos. Ao analisar o trabalho doméstico por diárias sob essa perspectiva, é possível observar que a emergência dessa nova morfologia assemelha às condições de outras categorias de trabalhadores/as com características historicamente presentes na categoria das trabalhadoras domésticas diaristas, como a desregulamentação, a precarização de direitos, a falta de vínculos formais e a prevalência do "negociado" sobre o legislado. Diante desse contexto, é necessário compreender até que ponto há realmente uma autonomia das trabalhadoras diaristas e se há uma ruptura com a servidão própria do trabalho doméstico. Posto isso, essa pesquisa tem como objetivo analisar as mudanças e continuidades nas práticas e lógicas de servidão no trabalho doméstico remunerado por diárias. A amostra será composta por trabalhadoras domésticas diaristas, sindicalizadas e não sindicalizadas, residentes na Região Metropolitana do Recife, com entrevistas semiestruturadas para coleta de dados. A análise do material será realizada através da análise de conteúdo nos moldes de Laurence Bardin, com base no cruzamento das perspectivas teóricas da Sociologia do Trabalho de Ricardo Antunes, da Teoria Feminista Marxista da Reprodução Social e da produção do Feminismo Negro Brasileiro de Lélia Gonzalez.