“A VIDA NÃO É UM SOPRO”: profissionais de enfermagem imaginando Cuidados Paliativos
imaginação; Psicologia sociocultural; Análise microgenética; Cuidados paliativos; Círculos de cultura.
Os Cuidados Paliativos são uma abordagem centrada na melhoria da qualidade de vida para pacientes com doenças graves e suas famílias, focando no alívio da dor, gerenciamento de sintomas, apoio emocional e espiritual, tomada de decisões e foco na qualidade de vida. O presente estudo teve como objetivo investigar o imaginar de profissionais de enfermagem sobre Cuidados Paliativos, trabalhadores de hospital da cidade do Recife-Pernambuco, Brasil. Tomamos nesta investigação a tese de que o modelo da imaginação como expansão da experiência de Zittoun e colaboradores (e.g., Zittoun e Cerchia (2013) pode ser ampliado ao integrarmos com a abordagem histórico-relacional proposta por Fogel, Garvey, Hsu, e West-Stroming (2006), utilizando-se de uma análise microgenética. O método desenvolvido nesta tese envolveu duas etapas: a primeira foi dedicada à aplicação de formulário eletrônico com doze perguntas fechadas e duas perguntas abertas. Participaram desta etapa 57 profissionais de enfermagem de 5 setores do hospital. A segunda etapa se caracterizou pela realização de três encontros dedicados a um processo educacional intitulado Círculos de Cultura, desenvolvidos por Paulo Freire (1991). Os Círculos de Cultura foram conduzidos pela pesquisadora-animadora com um grupo de sete enfermeiras do mesmo hospital que haviam participado da etapa precedente. Na etapa 1, além da identificação da frequência de ocorrência das respostas objetivas, utilizou-se a técnica da nuvem de palavras para a análise das respostas referentes às duas questões abertas. Quanto à etapa 2, foi realizada análise microgenética dos registros auditivos, audiovisuais e imagéticos produzidos em cada um dos três encontros. Como resultados da Etapa 1: com 57 participantes, o panorama cultural apresentou imaginação de Cuidados Paliativos relacionados a cuidados de fim de vida. Na Etapa 2, percebemos que o imaginar das enfermeiras sobre Cuidados Paliativos envolveu a apresentação de padrões desenvolvimentais da imaginação: o Marco Zero onde os Cuidados Paliativos eram exclusivamente relacionados a cuidados para a morte; Nível 1, caracterizado por dúvidas e contradições em relação ao imaginado; Nível 2, compreensão mais ampla e complexa, considerando os Cuidados Paliativos como uma abordagem que não é exclusivamente relacionada à morte e Nível 3, imaginando Cuidados Paliativos como uma abordagem que pode reconciliar os cuidados de fim com a promoção da qualidade de vida. Adicionalmente, propomos a ampliação do modelo teórico da imaginação com a compreensão de rupturas secundárias, resultando na proposta de "Espirais Múltiplos da Imaginação", um modelo que descreve como múltiplas rupturas simultâneas nos processos imaginativos que ocorrem ao longo do tempo. Propomos que a análise microgenética guiada pela abordagem histórica-relacional, atrelada ao modelo da expansão da experiência, permite uma compreensão mais complexa e minuciosa da dinâmica do imaginar ao longo do tempo, especialmente em contextos dialógicos educacionais promovidos nos e pelos Círculos da Cultura. Sugerimos que, em pesquisas futuras, busquem integrar os estudos de imaginação e microgênese em outros contextos de vida. O presente trabalho insiste no fortalecimento do paliar como um cuidado à vida face ao simbolismo ainda presente que vincula este cuidado à morte, à finitude. Esperamos que este estudo impacte gestores e profissionais de saúde para a implementação de políticas para educação ao paliar, fortalecendo a importância da técnica como um instrumento legítimo para o cuidado e promoção à saúde.