O SIGNIFICADO DO LUTO POR ÓBITO FETAL VIVIDO PELOS PAIS A
LUZ DA FENOMENOLOGIA DE HEIDEGGER
Morte Fetal; Pesar; Luto Materno; Cuidados de Enfermagem; Prática Profissional.
Uma das situações que represente a maior das quebras de expectativas no
período gravídico pode ser o óbito fetal, o que representa o enfrentamento do
processo de morte e morrer em situação de nascimento. É notório que a perda fetal
independente de sua causa e conduta clínica, precisa de uma rede de apoio e pensar
em incluir em todos os serviços uma assistência humanizada nesse momento sutil na
vida dos pais é fundamental. Compreender o fenômeno, como é e como se mostra, a
partir da fenomenologia heideggeriana é vislumbrar uma compreensão e valorização
do ser na sua singularidade junto ao seu sentimento. Nesse contexto se torna
essencial a compreensão do enlutamento vivido pelos pais e as suas possíveis
dimensões de cuidado. Dessa forma, o objetivo deste estudo foi desvelar o significado
do luto vivenciado pelos pais decorrentes de perda por óbito fetal à luz heideggeriana.
Trata-se de uma pesquisa fenomenológica, a qual teve aprovação do Comitê de Ética
em Pesquisa sob o Parecer nº: 5.363.508 e CAAE: 56753922.1.0000.5208. A pesquisa
foi desenvolvida no município de Caruaru-PE, com pais que receberam assistência
durante e após o diagnóstico de óbito fetal no Hospital Jesus Nazareno – HJN. A
amostragem foi intencional, uma vez que os pais que vivenciaram a perda por óbito
fetal, atendidos na referida instituição representavam as características relevantes e
desejáveis para o estudo. Na abordagem fenomenológica, não há necessidade de
critério amostral, pois a inclusão se dá de forma progressiva e por adesão, sem
demarcar a priori o número de participantes, tendo sido encerradas as entrevistas pela
repetitividade, dando assim a sua interrupção com um total de dezoito pais. Os
depoimentos foram obtidos mediante entrevista fenomenológica. Foi utilizada a
técnica de entrevista aberta sobre o fenômeno pesquisado e um diário de campo para
registrar outras formas de discursos, como o não verbal. No intuito de garantir-lhes o
anonimato, foram atribuídos pseudônimos (nomes de pedras preciosas). A análise
fenomenológica foi conduzida pela compreensão de fala com a investigação do ser de
imediato, ou seja, a partir da ‘compreensão vaga e mediana’. Após a transcrição e
organização do material obtido, foram realizadas sucessivas leituras com vistas a obter
familiaridade com as falas que descrevia o que foi vivido e identificar os significados
nele contido. Cinco unidades de significado foram constituídas na linguagem dos
depoentes: “Notícia do óbito fetal e a negação” demonstrando através das falas a
recordação dos momentos e sentimentos vividos por ocasião da perda; “O luto,
legitimação e a rede de apoio”, nesta segunda unidade é destacado a vivência de luto
e aborda-se uma necessidade de reconhecimento do óbito fetal pela sociedade. Na
terceira unidade: “Lembranças da internação e o sofrimento vivenciado”, constata-se
que os participantes experienciam sentimentos negativos, de forma confusa, como
uma mistura de sentimentos difícil de descrever; “O cuidado de enfermagem”, a
experiência dos pais mostra um cuidado positivo da equipe de enfermagem, mas
também se evidenciou fragilidade em determinadas falas sobre a atuação dos
profissionais. E na última unidade: “Ambiência e estrutura para as situações de perda
dentro das maternidades” observa-se que as instituições apresentam dificuldades
relacionadas à internação de mulheres em situação de perda fetal, desde o momento
de acesso ao serviço até a alta hospitalar. Dessa maneira, o método fenomenológico
de investigação permitiu nos aproximarmos dos modos de enfretamentos de
experiencias pessoais familiares e de cuidar de enfermagem e os seus significados, a
partir da linguagem falada, gestual e silenciada revelada pelos depoentes. A inserção
do tema na formação de acadêmicos de enfermagem e dos profissionais é urgente.