EFEITOS DE CICLOS RECORRENTES DE SECA NA DINÂMICA DE CARBONO, RELAÇÕES HÍDRICAS E A INFLUÊNCIA DA FOTOSSÍNTESE CORTICULAR EM UMA ESPÉCIE NATIVA DE FLORESTA SECA
Caule verde; carboidratos; seca recorrente.
Ambientes secos são caracterizados por apresentar baixa disponibilidade de água devido à irregularidade das chuvas, o que está diretamente relacionado com o desenvolvimento das espécies vegetais. Ao longo da evolução, as plantas desenvolveram estratégias que promovem sua sobrevivência frente a condições ambientais estressantes, como uma dinâmica específica de carboidratos, capacidade fotossintética em tecido lenhoso, assim como uma capacidade de “memorizar” eventos de estresse passado, garantindo melhor eficiência em eventos futuros. O estudo investigou as estratégias ecofisiológicas adotadas por uma espécie de caule verde nativa de ambiente seco em resposta a ciclos recorrentes de seca. Um experimento controlado foi realizado com plantas jovens da espécie divididas em quatro tratamentos: controle (CO), controle + exclusão de luz no caule (CE), déficit hídrico (D) e déficit + exclusão de luz no caule (DE) e submetidas a dois ciclos de seca recorrente. Foram avaliados parâmetros de crescimento (altura, número de folhas e diâmetro do caule), conteúdo hídrico foliar (CHR), umidade do solo (URS), condutância estomática (gs), fluorescência da clorofila, pigmentos fotossintéticos e dosagem de carboidratos não estruturais (CNE) em diferentes tecidos (folha, caule, raiz e raiz secundária). Não houve diferença significativa entre os indivíduos dos diferentes tratamentos para os parâmetros de crescimento avaliados. O CHR se manteve elevado (acima de 70%) e estável em todos os tratamentos, mesmo quando a URS reduziu em 90% no tratamento de déficit hídrico em relação ao controle durante o segundo ciclo. As plantas submetidas ao déficit hídrico, durante o primeiro ciclo, reduziram a gs após três dias sem rega, enquanto no segundo ciclo, essa redução ocorreu mais tardiamente (após nove dias de suspensão hídrica), indicando uma estratégia de memória ao estresse anterior. O caule das plantas que tiveram acesso à luz durante o segundo ciclo, apresentam valores de fluorescência da clorofila a semelhantes aos do tratamento controle, mesmo sob condições de déficit hídrico. Assim como, há uma concentração considerável dos pigmentos fotossintéticos presentes no caule, mesmo que as folhas apresentem teores mais altos, o que evidencia a capacidade fotossintética do tecido lenhoso da espécie. A concentração de CNE durante o segundo ciclo é 63% menor nos tratamentos de déficit (D e DE) quando comparados com os tratamentos controles (CO e CE). Em contrapartida, o particionamento desses carboidratos entre os diferentes órgãos não muda durante todo experimento, sendo preferencialmente alocado para caule e raiz. Em resumo, a espécie demonstrou múltiplas respostas ecofisiológicas para tolerar e sobreviver a condições de seca no solo, mostrando eficiência diante de ciclos recorrentes de déficit hídrico.