Viver a universidade em tempos neoconservadores: o currículo político-cultural do Núcleo LGBT e as experiências de estudantes LGBTQIAPN+ no Agreste de Pernambuco.
Neoconservadorismo. Discurso. Currículo. Ensino superior. Subjetividades.
Significativas políticas de inclusão social foram postas em ação no ensino superior brasileiro nas últimas duas décadas. Nesse contexto, a UFPE expandiu suas atividades, implantando dois campi no interior de Pernambuco. A maioria dos/das estudantes dessas regiões é proveniente de classes populares e necessita de auxílios para permanência e conclusão dos cursos. Quando se trata de jovens LGBTQIAPN+, outros aspectos de vulnerabilidade associam-se a questões econômicas, especialmente, o preconceito e a discriminação. A criação da Diretoria LGBT na universidade, atualmente denominado Núcleo LGBT, foi importante para conquista de direitos, visibilidade, inserção e permanência desse grupo na instituição, mas, com o avanço de políticas neoliberais no país, atos antidemocráticos autoritários contra o estado de bem-estar social e pautados em lógicas neoconservadoras se tornaram comuns, alimentando o ódio e o desejo de eliminar as experiências bem-sucedidas de/com populações tradicionalmente excluídas de contextos universitários. Este estudo teve como objetivo conhecer os espaços-tempos curriculares do Núcleo LGBT da UFPE e as experiências de estudantes LGBTQIAPN+ no agreste pernambucano frente à emergência de discursos neoconservadores. Englobou dois corpora. O primeiro consistiu em elementos textuais capturados das redes sociais do Núcleo e entrevistas com pessoas que lá trabalham ou trabalharam. O segundo foi composto por transcrições de conversas com estudantes LGBTQIAPN+ do Centro Acadêmico do Agreste. Percebeu-se que o Núcleo tem construído um currículo político-cultural para a UFPE forçando a Universidade a produzir e negociar sentidos sobre si mesma, a sociedade e os sujeitos, num processo híbrido, contingente e multideterminado. A criação desse currículo, entretanto, se dá num contexto de sucessivos tensionamentos e resulta de processos articulatórios entre demandas de diferentes segmentos sociais em meio a poderosos processos de reiteração normativa que tentam conter elementos perturbadores dos sistemas já estabelecidos. Tais processos, por sua vez, são atravessados e atravessam as dinâmicas de subjetivação dos/as estudantes num movimento ontológico de mútua constituição.