FORMAS ENCANTADAS DE VIDA E REXISTÊNCIAS À FEITIÇARIA CAPITALISTA: poéticas do desconfinamento e escritura nos rastros de uma aprendizagem ayahuasqueira
Formação humana, Magia, Sonhos, Ayahuasca, Feitiçaria Capitalista
A escrita dessa tese foi atravessada pela intrusão de Gaia na forma de uma pandemia que nos forçou a parar, a entrar em um confinamento, simultaneamente, social, psíquico e espiritual, reconfigurando de maneira profunda nossas vidas individuais e coletivas. Entre quatro paredes de um apartamento, a partir das janelas, era assim que o mundo chegava até mim: pombos batendo na janela de madrugada, uma invasão de abelhas, comunicações em sonhos, peles de papel escritas a partir das palavras de um povo muito antigo, mas que ainda preserva a magia em seu cotidiano. Parar e ficar solitária dentro de casa me fez ficar atenta ao que estava ao meu redor: aos bichos, às plantas, aos sonhos. Aos poucos, construí uma rotina de exercícios para a escrita dessa Tese, tecendo um conjunto de principais práticas espirituais que havia vivenciado ao longo dos anos como meditação, ioga, recitação de mantras. Foi então que acessei a minha experiência mais recente e perturbadora: o encontro com a ayahuasca, planta sagrada conhecida como a planta mestra ou a planta professora dos povos amazônicos. Com ela, compreendi sobre o que realmente era o fenômeno a ser estudado nessa pesquisa: cantos selvagens e encantos mágicos a fim de inspirar e conspirar práticas de descentramento do ego, através dos sonhos e das visões alcançadas no contexto de uma aprendizagem ayahuasqueira. Para isso elaborei um dispositivo de estudo-investigação-reflexão que chamei de exercícios de desconfinamento poético, um caminho metódico para experimentar uma escrita capaz de acolher e atravessar as trilhas da magia no campo filosófico-educacional. Inicialmente, acionei os sonhos como índices de uma forma de sabedoria ocultada ou esquecida pelas abordagens acerca da formação do humano no Ocidente. Em seguida, faço uma aliança com a ayahuasca, enquanto uma mestra espiritual da ética do cuidado de si, para ativar sonhos de outros mundos e modos de resistência à feitiçaria capitalista. Escrevemos uma Tese como quem lança feitiços, a fim de sair do confinamento, da indiferença, do esquecimento e da cegueira que têm nos conduzido a uma atitude cínica de irresponsabilidade ético-política-pedagógica face aos desafios da formação humana face à destruição do nosso mundo comum. Aproximamos vida, escrita e pensamento a fim de recuperar nossa capacidade ouvir os sons de Gaia. Em aliança com a planta professora me tornei uma pesquisadora-ciborgue-tradutora de sonhos, a fim de destituir a máquina antropocêntrica que articula dos processos de formação dos saberes no mundo da Educação, ficcionalizando nesse percurso uma máquina-brincante de transformação dos seres humanos em seres terranos.