LARES MOVEDIÇOS: A experiência do tempo e do espaço na Salta de Martel
Lucrecia Martel, familiar, estranho, experiência, sensível
A “Trilogía de Salta” de Lucrecia Martel lança um olhar singular para a sua cidade de origem na Argentina e, em especial, para o âmbito familiar e o espaço da casa em uma imersão na vida ordinária, no território do doméstico e do feminino que faz emergir o extraordinário no ordinário ou o estranho no familiar. Esta pesquisa propõe adentrar e habitar os filmes “O Pântano” (2001), “A Menina Santa” (2004) e “A Mulher Sem Cabeça” (2008), por meio da criação de ensaios audiovisuais inspirados nas pesquisas de Samuel Brasileiro (2021) e Catherine Grant (2012, 2014, 2016), em diálogo com as séries “Parallel I-IV” (2012), de Harun Farocki, e “Ways of Seeing”, de John Berger (1972). Esta metodologia de análise fílmica comparada consiste na montagem de cenas selecionadas dos filmes do semelhança e alteridade entre os filmes do corpus da pesquisa e possibilita investigar relações de semelhança e alteridade entre os filmes, experimentá-los de dentro e investigar na trilogia de Martel o potencial, não de representar tempo-espaços reais de suas origens familiares, mas de reconfigurar formas de ver o mundo interior e habitar esse universo do dentro a partir de uma perspectiva atenta à dimensão dos afetos, que permite vivenciar noções alternativas de temporalidade e formas de vínculo com o mundo sensível.