PALEOGEOGRAFIA DO CRETÁCEO NO NORDESTE DO BRASIL: IMPLICAÇÕES GEOQUÍMICAS DAS BACIAS DO ARARIPE E DE SÃO LUÍS-GRAJAÚ
Folhelho Betuminoso; Formação Codó; Formação Ipubi; Aptiano Inferior; Paleogeografia
As formações Codó (Bacia de São Luís-Grajaú) e Ipubi (região Norte da Bacia do Araripe), que constituem sequências de folhelhos betuminosos e evaporitos, vêm sendo correlacionadas devido a sua distribuição litológica e conteúdo fossilífero. En-tretanto, estudos geoquímicos relacionando ambas as formações não tinham sido re-alizadas, até o momento, de forma a elucidar questionamentos sobre o ambiente de-posicional, idade de deposição e consequente contexto paleogeográfico. Dessa forma, com o uso de estudos geoquímicos (orgânicos, inorgânicos e isotópicos), apre-sentam-se aqui condições paleoambientais (redox, clima, salinidade, paleoprodutivi-dade, tipo de matéria orgânica), geocronológicas (pelo sistema Re-Os) e paleogeo-gráficas (por perfis de δ13Corg). Utilizou-se como material nesta investigação os folhe-lhos betuminosos das formações Codó e Ipubi. Estes se mostram enriquecidos em Fe, S, V, Cu e Zn (elementos com propriedades organofílicas), sendo esses elementos predominantemente autigênicos, baseando-se na relação deles com Alumínio e res-pectivo elemento do Average Shale. Essas rochas se depositaram em condições óxi-cas-subóxicas (V/Cr < 2; COT/NT > 5; δ15Ntotal = 3,7-6,9 ‰), em um paleoclima quente-úmido (Rb/Sr < 1; Sr/Cu < 5; Fe/Mn elevados; valores de δ13Corg negativos), com va-riações de paleossalinidade (Sr/Ba < 0,2) que ocasionou oscilação da paleoprodutivi-dade primária (valores variando de positivo a negativo para os proxies PORG e SiEX; BaBIO variando entre 180-5.725 ppm) devido ao corpo d’água ser estratificado (perío-dos rasos a profundos; (Al+Fe)/(Ca+Mg) = 0,1-20,7). Além disso, a matéria orgânica desses folhelhos betuminosos sofreu maior influência terrestre à medida que se apro-xima daqueles da Formação Ipubi – ou seja, os folhelhos betuminosos possuem ma-téria orgânica marinha com influência terrígena na Bacia de São Luís-Grajaú e são terrestres com influência lacustre na Bacia do Araripe. Além disso, sugere-se que a deposição dos folhelhos betuminosos de ambas as bacias são geocronocorrelatos, uma vez que os folhelhos betuminosos da Formação Codó se depositaram em ~123 Ma (geocronologia Re-Os) – mesma idade obtida para os folhelhos betuminosos da Formação Ipubi em estudo anterior. Associado a isso, defende-se que esses folhelhos betuminosos são correlatos à folhelhos betuminosos de sessões típicas do Mar de Tethys uma vez que apresentam perfis quimioestratigráficos de δ13Corg semelhantes (excursões negativas do perfil δ13Corg com média -25,5 ‰). Os dados aqui realizados sugerem que a ingressão marinha nas bacias sedimentares do Nordeste ocorreu pela Bacia de São Luís-Grajaú – coincidindo com os Eventos Oceânicos Anóxicos 1a e 1b (~120 Ma e ~111 Ma, respectivamente). Entretanto, pelo fato dos folhelhos betumino-sos da Formação Ipubi apresentarem matéria orgânica predominantemente tesrreste que divergem daqueles da Formação Codó – com matéria orgânica majoritariamente marinha, sugere-se que as primeiras ingressões do Mar de Tethys ocorreu na Bacia de São Luís-Grajaú a ca. de ~123 Ma, mas atingiu apenas a região Sul da Bacia do Araripe (oriundo da Bacia de Sergipe-Alagoas?) durante a deposição dos folhelhos da Formação Ipubi.