PANORAMA DAS CIDADES MÉDIAS DO INTERIOR DO NORDESTE: uma proposta de análise histórica e socioeconômica
Cidades Médias. Demografia. Economia. Nordeste. Rede Urbana.
O debate referente às cidades médias no Brasil é pautado pela crescente importância que elas têm desempenhado no território nacional, em paralelo ao processo de interiorização do capital e das atividades urbanas a ele associadas. Compreende-se que proporcionaram importantes estímulos a tal processo as chamadas “políticas desenvolvimentistas”, implementadas nos anos 1970. Entre estas, destaca-se o II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento) que incluiu ações voltadas à dinamização dos centros urbanos brasileiros, inclusive aqueles de médio porte. As cidades médias passam a ser consideradas como uma alternativa para desafogar as metrópoles, e fornecer a infraestrutura urbana necessária à intensificação de inter-relações e fluxos de população e serviços - algo que a interiorização exigia. A estagnação econômica que se segue ao colapso do desenvolvimentismo, no início dos anos 1980, não elimina, contudo, o poder de atração das cidades médias, que se revigora na década de 2000. Desta vez, o movimento de interiorização ocorre em sintonia com a retomada do crescimento econômico liderado pelo setor público. Em meados da década seguinte, porém, verifica-se nova reversão. A complexidade da crise de 2015 obstruiu o ciclo de desenvolvimento urbano desta categoria de cidades, impactando o dinamismo iniciado no período desenvolvimentista. Tendo esta trajetória como pano de fundo, a presente tese tem como objetivo detalhar o panorama socioeconômico recente das principais cidades médias do interior do Nordeste, focando o recorte temporal que vai dos anos 1990 ao período 2015-2020. Fazendo uso de bases de dados secundários, consistidos e sistematizados em tabelas e gráficos, observou-se que no período 2000-2015, as cidades selecionadas apresentaram desempenho semelhante ao da economia nacional como um todo: registraram expressivo crescimento econômico, associado ao intenso fluxo de investimentos externos (públicos e privados), bem como políticas sociais e de transferência de renda em direção ao Nordeste, com melhorias nos indicadores socioeconômicos. Este processo não se sustenta após 2015, quando o desempenho do PIB apresenta queda em todas as cidades selecionadas e, consequentemente, reduz o fluxo de capital que vinha sustentando tal crescimento. Desse modo, diferentemente da década de 1990, no período 2000-2015 o crescimento das cidades médias não apenas coincidiu com o crescimento da economia nacional, e nem decorreu da estagnação das metrópoles observada na década de 1990.