Fatores relacionados a infecção de corrente sanguínea com patógenos bacterianos multirresistentes, genes de resistência, mortalidade, tempo e custo hospitalar em pacientes oncológicos de hospital especializado
bacteremia; genes de resistência; fatores de risco; câncer.
Infecções de corrente sanguínea (ICS) são uma das complicações mais frequentes em pacientes
com câncer. Nesta população, a frequência de bacilos Gram-negativos (BGN) produtores
de beta-lactamase de espectro estendido (ESBL) e carbapenemases vêm aumentando nos últimos
anos e vêm sendo considerada uma grave ameaça ao êxito do tratamento antimicrobiano. O
objetivo do estudo foi descrever os fatores relacionados à ICS, frequência de bactérias e fungos
isolados, detecção de genes de resistência, mortalidade, e tempo e custo de internamento
hospitalar em pacientes assistidos em hospital de referência para tratamento de câncer no Estado
de Pernambuco. As hemoculturas de pacientes com ICS foram submetidas à identificação
fenotípica dos microrganismos e posteriormente a confirmação através de testes automatizados.
As amostras foram estudadas para detecção de genes de resistência a β-lactamases bla SHV , bla TEM ,
bla CTX-M , bla KPC , bla GES , bla NDM, bla IMP , bla VIM , bla SPM , bla GIM e bla SIM e as oxicilinases bla OXA-48 e bla OXA-
58 e polimixina mcr em bacilos Gram-negativos e de genes mecA, vanA e vanB em cocos Gram-
positivos. Nos isolados que foram resgatados fungos, testes de identificação e suscetibilidade
foram realizados. Hemoculturas positivas de quarenta e cinco pacientes foram recuperadas, no
período de 2018 a 2020, sendo a maioria dos indivíduos mulheres, com média de idade de 49
anos e apresentando tumores sólidos. A taxa de mortalidade geral, de mortalidade em 30 dias e
de letalidade foram respectivamente: 53,3%, 28,8% e 22,2%. O tempo médio de hospitalização
foi de 34 dias (1-80 dias), com custo médio hospitalar foi de U$ 21.297,28. De 45 pacientes
incluídos na amostra, foram obtidos 55 isolados recuperados de hemoculturas. Dos isolados
obtidos, 38 foram por Gram-negativos, 13 por Gram-positivos e quatro espécies de leveduras.
Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae foram os BGN mais frequentes e entre estas espécies,
os genes mais frequentemente encontrados foram bla OXA-48 e bla SIM . Os genes bla GES , bla NDM e bla KPC
foram encontrados na maioria dos BGN. E bla TEM e bla CTX foram os mais comuns entre os ESBL.
Foi documentado a ocorrência de infecções polimicrobianas em cinco casos, incluindo as
espécies Pseudomonas aeruginosa, Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae, Acinetobacter
baumanii, Staphylococcus coagulase negativo e Candida spp. Os genes mecA e vanA foram
encontrados em isolados de Staphylococcus spp. e Enterococcus faecium, respectivamente.
Espécies de Candida spp. apresentaram alta resistência à voriconazol e fluconazol. Na análise
univariada, ICS esteve associada às variáveis: inserção de dispositivos invasivos, comorbidades,
quimioterapia, maior tempo de terapia antimicrobiana empírica e, registro de intervenção
cirúrgica. Após análise multivariada a condição de apresentar comorbidade permaneceu no
modelo, como fator de risco para ICS em pacientes portadores de câncer (p=0,002). Pode-se
concluir que indivíduos internados para tratamento de câncer e apresentando comorbidades,
tiveram maior risco de apresentar ICS por BGN multirresistentes (MDR) que por sua vez traz
impacto negativo nas taxas de mortalidade e, que medidas de identificação e contenção de
disseminação através de precauções de contato são importantes, haja vista que a velocidade de
emergência destes patógenos vêm apresentando novas moléculas identificadas limitando as
opções do arsenal terapêutico.