ALIMENTAÇÃO POR GASTROSTOMIA EM CRIANÇAS DISFÁGICAS: COMPARAÇÃO ENTRE FÓRMULAS COMERCIAIS EXCLUSIVAS E COMPLEMENTADAS COM DIETA ARTESANAL
Nutrição Enteral, Gastrostomia, Disfagia, Alimentos Formulados, Nutrição da criança; Nutrição do adolescente, Dano Cerebral Precoce.
Introdução: A recomendação convencional para crianças com gastrostomia é o uso exclusivo de fórmulas industriais. No entanto, recentemente, a opção por dietas artesanais caseiras tem ganhado atenção, motivada pelos desejos dos pais e desafios de acesso a fórmulas industriais. Contudo, a segurança das dietas artesanais ainda carece de evidências, levantando questões em relação à sua viabilidade e adequação, especialmente em contextos de vulnerabilidade social. Objetivos: Este estudo tem como objetivos comparar o consumo alimentar e sintomas gastrointestinais em crianças e adolescentes com gastrostomia que utilizam Fórmula Comercial Exclusiva (FCE) com aqueles que utilizam Fórmula Comercial Complementada por dieta artesanal caseira (FCC). Além disso, comparar a composição proteica das dietas caseiras elaboradas pelas mães com o recomendado. Métodos: Este estudo de corte transversal foi conduzido em um Serviço de Gastroenterologia Pediátrica. O estudo incluiu 44 crianças e adolescentes em uso de gastrostomia devido à disfagia, que foram subdivididos em dois grupos, FCE e FCC, com base no tipo de dieta utilizado. Os cuidadores do grupo FCC receberam orientação e medidores padronizados para o preparo caseiro da dieta. A avaliação do consumo alimentar de energia, macronutrientes, cálcio, ferro e fibras foi realizada através do Recordatório alimentar de 24h. Uma amostra de dieta artesanal preparada pelo cuidador foi solicitada para análise físico-química de proteína no laboratório de análise de alimentos. Para avaliação do nível de satisfação dos cuidadores quanto ao uso dos diferentes tipos de dieta, foi utilizada a Escala Likert. Resultados: dos 44 pacientes, (7,8 ±2,2 anos). 21 compuseram o grupo FCC, enquanto 23, FCE. Foi observado que 44% dos indivíduos em uso de FCE apresentavam consumo insuficiente de proteínas e 83% consumo excessivo de lipídios enquanto na FCC 6% de insuficiência e 69% de excesso respectivamente. Independentemente do tipo de dieta, crianças maiores de 8 anos apresentavam percentuais de inadequação de cálcio próximos a 90% e os menores próximos a 40%. A inadequação de fibras chegou a 100% em todos os grupos avaliados. A mediana-IQR do teor de proteínas (g/100ml) obtido através da análise físico-química em laboratório foi semelhante a que seria encontrada no mesmo volume da fórmula comercial habitualmente utilizada (3,32 - 2,70 a 3,91 vs. 3,4 - 3,1 a 3,4; p=0,71). Das 18 amostras de dieta, 33% (n=6) tiveram a proteína dentro da faixa recomendada, enquanto 50% (n=9) tinham proteína acima do recomendado. Cuidadores de pacientes FCC apresentavam-se mais satisfeitos com a alimentação do que os FCE (p=0,04). Conclusão: A utilização de dietas artesanais de forma complementar às fórmulas industriais reduziu os percentuais de inadequação alimentar em pacientes pediátricos com gastrostomia. O uso de FCE, não garantiu ingestão alimentar adequada de nutrientes, principalmente proteína, cálcio e fibras. Além disso, o uso de FCC teve efeito moderado em reduzir regurgitações e necessidade de tempo prolongado de infusão da dieta. Os cuidadores apresentaram maior nível de satisfação com o uso da FCC e, finalmente, a dieta artesanal orientada por nutricionista atingiu quantidades satisfatórias de proteína, mesmo em famílias em vulnerabilidade social.