Mobilidade humana solidária: Um caso de integração econômica de migrantes venezuelanos no Brasil
Migrações; Sul global; Integração econômica; Pensamento pós-abissal Economia solidária; Pernambuco.
A atual crise de refugiados atinge números sem precedentes na história mundial. Até dezembro de 2021, eram mais de 82 milhões de pessoas deslocadas forçadamente devido a guerras, conflitos armados e perseguições. Fenômeno que se destaca sobretudo em países e regiões ditas em desenvolvimento e que compartilham problemas socioeconômicos, para os quais adotamos o conceito de Sul global. Uma migração entre países do Sul global é o que encontramos quando nos deparamos com o maior êxodo populacional da história recente da América Latina, que é a atual diáspora venezuelana, com mais de 6 milhões de exilados desde 2013 em suas jornadas para os países vizinhos como o Brasil, um país que se encontra permeado por distintas crises. Uma conjuntura que tende a tornar a integração desses migrantes hostil. Frente a tal problema, defendemos que práticas permeadas pela economia solidária podem favorecer um intercâmbio de saberes que facilitam o processo de integração dos migrantes. Dentro deste contexto, tivemos como objetivo principal descrever a migração por sobrevivência no Sul global de maneira a desvelar saberes que possibilitem o processo de integração econômica. Como objetivos específicos, traçamos um panorama da recente migração venezuelana no estado de Pernambuco, identificamos os principais bloqueios enfrentados por esses migrantes, interpretamos o papel das práticas de viés solidário para o processo de integração econômica, e, por fim, reconhecemos os saberes que tornaram possível que as barreiras encontradas pudessem ser superadas. O que nos levou a utilizar como principal teoria auxiliar a mobilidade bloqueada (blocked mobility). Para tal, visando um direcionamento em práticas e experiências daqueles que sido sistematicamente vítimas de injustiças causadas pelas lógicas de dominação hegemônicas, adotamos um posicionamento onto-epistemológico assentado no pensamento pós-abissal de Boaventura de Sousa Santos. Razão pela qual escolhemos o estudo de caso ampliado de Michael Burawoy como metodologia principal. Através dela, nos debruçamos sobre o caso de venezuelanos se integrando economicamente em Pernambuco com o apoio de práticas com viés de economia solidária, tendo principalmente, mas não somente elas, a observação participante e a construção de narrativas das jornadas dos migrantes como fonte de dados e a etnografia pública e análise de conteúdo como estratégias analíticas. Nossos esforços demonstraram que a presença venezuelana se deu em quatro momentos principais, sendo o último uma fase de arrefecimento onde os migrantes têm sido direcionados, por falta de outras opções, ao empreendedorismo. No mesmo sentido, uma série de bloqueios se fazem presentes para dificultarem a integração dos migrantes, sejam oriundos de aspectos socioculturais como provocados pelo estado, pelo mercado ou por ausência de capital de rede. Barreiras que apesar de se manterem presentes, acabam atenuadas pelos migrantes envolvidos em redes solidárias, mas que são mais superadas quando os migrantes fazem uso de saberes hegemônicos e contra-hegemônicos que eles vêm construindo em suas jornadas.