Para além do mito da democracia racial: consumidoras negras negociando a subjetividade étnica no mercado brasileiro.
Mitos de mercado constituem recursos culturais que atraem os consumidores para uma atividade de consumo ou marca. Para este projeto de tese, me debruço sobre o mito de democracia racial pertinente à construção da identidade nacional da sociedade brasileira, negociado por atores de mercado e consumidores ao longo do século XX. Por meio de sua representação simbólica, se sustentou uma hierarquia social em que a beleza da mulher negra ocuparia a posição de baixo. No entanto, essas consumidoras, ao negociarem esses padrões de beleza em formas de produtos e serviços ofertados no mercado, também estão negociando suas identidades culturais, consequentemente elas não estão apenas reafirmando a hierarquia proposta pelo mito da morenidade brasileira, mas também a contestando. Por meio de uma abordagem de pesquisa qualitativa com fontes documentais, entrevistas narrativas e técnicas projetivas, proponho que essa contestação poderia ser observada na maneira como a identidade da beleza feminina negra, em torno do movimento negro brasileiro, vem se desenvolvendo nos últimos anos. Seria o surgimento de uma contra-mitologia de mercado por meio do discurso das africanidades, desenvolvendo, consequentemente, a subjetividade étnica da consumidora negra brasileira nos dias de hoje.