cinema brasileiro; colonialidade; branquitude; casa-grande.
Na última década, uma série de filmes brasileiros abordou o universo da branquitude (BENTO; SHUCMAN; SOVIK), de modo a aludir às relações de colonialidade (QUIJANO; SEGATO) presentes na história do país. A casa- grande, celebrada por Gilberto Freyre como o lugar de formação social, cultural e política das famílias patriarcais no período colonial, teve destaque em algumas dessas produções. Mesmo nas obras em que ela não figura, seu vulto histórico se esboça, seja através de formas arquitetônicas atualizadas (condomínios, mansões de luxo, sobrados, latifúndios e camarotes), seja por meio de assombrações, medos e fetiches de personagens brancos, que, inequivocamente, se relacionam com a herança colonial. A partir de um método inspirado no saber da encruzilhada (SODRÉ; SIMAS; RUFINO) e numa abordagem discursiva (SHOHAT; STAM), pretendo analisar os filmes dirigidos por cineastas rancos e brancas, que deram legibilidade às feridas coloniais e que promoveram a figuração/atualização da casa-grande. Em muitas dessas obras se percebe um acionamento das estratégias do discurso colonial (BHABHA; HALL), de forma que os(as) personagens não-brancos(as) são caracterizados(as), majoritariamente, como subalternos(as), perigosos(as) e/ou sexualizados(as). A representação da violência também é outro ponto crítico, por vezes levando os espectadores a uma contemplação, e em algumas obras a uma experiência de catarse. Além disso, observa-se nos filmes uma contemporização da branquitude representada, principalmente, através da adesão à sensibilidade dos(as) personagens brancos(as).