A FORMA-VALOR E A FORMA-JURÍDICA: CRÍTICA À NEUTRALIDADE EPISTÊMICA
Forma jurídica. Forma mercadoria. Gênero, raça e classe. Reprodução. Totalidade.
A tese se propõe a criticar a neutralidade da forma valor e da forma jurídica, na medida em que repete dicotomias como sujeito-objeto, público-privado, branco-negro/indígena, homem-mulher, que moldam, de forma fetichizada, a ideia de trabalho, considerando que as noções sobre gênero e raça não são transcendentais, mas produtos históricos. Trata-se de uma manifestação do fetichismo que, segundo Marx, envolve a ocultação das verdadeiras relações sociais no capitalismo. Contudo, aponta que o próprio Marx estabelece uma análise fetichizada do capitalismo ao limitar sua crítica às relações estabelecidas a partir das mercadorias, ignorando outras relações sociais capitalistas não envolvidas diretamente na produção, como o trabalho reprodutivo. Justamente pela centralidade do trabalho na transformação da sociedade, advoga-se por uma ciência que desafie as concepções fetichizadas da realidade e revele as relações sociais subjacentes. Nesse sentido, aponta-se que o trabalho reprodutivo é, para a teoria marxista, uma parte oculta do valor que permanece fora da sua crítica, de modo que a dificuldade do marxismo em lidar com a reprodução reflete a própria divisão de gênero e racial nesse campo teórico. O androcentrismo da teoria marxista é uma distorção epistemológica causada pela alienação e marginalização das mulheres, sendo requisito de validade da pesquisa social a superação do discurso patriarcal na filosofia e na ciência. Entende-se que é necessário criticar simultaneamente a totalidade do fenômeno capitalista, desvinculando-o das ontologias metafísicas do iluminismo.