QUANDO O PORÃO INVISÍVEL INVADE A SALA: O TESTEMUNHO DO PRESO POLÍTICO IGOR MENDES EM A PEQUENA PRISÃO
Cárcere. Democracia. Igor Mendes. Preso político. Testemunho.
Neste estudo proponho analisar a obra literária A pequena prisão (2017), escrita pelo geógrafo e ativista Igor Mendes. O autor em questão, quando ainda estava na graduação na UERJ, foi preso no dia 3 de dezembro de 2014 por não seguir uma medida cautelar: não participar de manifestações públicas. Preso por sete meses no Complexo Penitenciário de Gericinó, no Rio de Janeiro, Igor Mendes usa suas palavras como sobrevivência, resistência e solidariedade aos demais companheiros dos porões invisíveis. Em A pequena prisão, temos um testemunho que desnuda as contradições dos Três Poderes e revela o ambiente inóspito que é o porão invisível da nossa sociedade, que busca formar cada vez mais corpos incircunscritos (CALDEIRA, 2000). Busquei responder como o testemunho elaborado em A pequena prisão é produzido e quais os problemas sociais e políticos que configuram a narrativa. Como os lugares de enunciação de vozes que sempre estiveram à margem dos processos histórico-sociais são reivindicados em A pequena prisão? Para chegar às respostas, correlacionei os conceitos de testemunho e testemunha (SALGUEIRO, 2018; SELIGMANN-SILVA, 2006; SILVA, 2008) com a violência perpetrada pelo estado autocrático (FERNANDES, 1976) a partir das contribuições teórico-metodológicas da Análise de Discurso Crítica (FAIRCLOUGH, 2001).