“OS LAICOS SANTIFICAM O MUNDO DESDE DENTRO”: Neoconservadorismo católico e política antifeminista no âmbito do governo federal (2019-2022)
Neoconservadorismo católico, Governo federal, Política antifeminista
Nas últimas quatro décadas, observamos acirramentos entre movimentos feministas e setores
conservadores religiosos e não-religiosos em torno das pautas sobre igualdade de gênero e
direitos sexuais e reprodutivos. O patriarcado, compreendido enquanto pilar e forma de
pedagogia que estrutura todas as formas de poder, adquire grande relevância dada a investida
familista, maternalista e hétero-patriarcal que se utiliza do discurso da “ideologia de gênero”
como categoria de acusação e de imposição de um regime cristão tradicional de diferença
sexual. A questão de gênero, atrelada à religião, longe de ser residual, minoritária ou
marginal, deve ser compreendida, neste trabalho, como o eixo de gravidade para
compreensão das relações de força instauradas no campo dos poderes e como pedra de toque
para compreendermos a oposição exercida na política contemporânea aos avanços das lutas
das mulheres. A produção de explicações seculares e teológicas para o gênero e a sexualidade
aumentaram a sensação de ameaça à hegemonia masculina e ao lar cristão tradicional e a sua
ordem de gênero, produzindo uma forte oposição a qualquer interpretação livre das regras
religiosas oficiais sob a alegação de produzirem interpretações relativistas quanto àquilo que
deve ser dado como natural ao ser humano. Ancorada no debate sobre a presença pública das
religiões no Brasil, e atribuindo ênfase ao protagonismo do catolicismo e da Igreja Católica,
minha proposta é de empreender um estudo sobre o neoconservadorismo católico no âmbito
do governo federal (2019-2022), analisando a forma com que a infraestrutura da política
sexual se expressa, no âmbito legislativo e executivo.