Entre a pessoa e a persona: a ontogênese da Drag Queen
drag queen, ontogênese, desenvolvimento, gênero.
Propulsionado pelas reflexões teórico-metodológicas advindas da perspectiva da Rede de Significações (RedSig) e campo teórico do Gênero, o presente trabalho teve como objetivo perscrutar a ontogênese da drag queen. O método desenvolvido pautou-se em entrevistas individuais e semi-estruturadas, que ocorreram em 3 momentos: antes, durante e após a montação. O primeiro encontro se deu com cada participante desmontado, e focou na origem e história da drag queen. O segundo encontro ocorreu durante e após a montação, buscando um aprofundamento na construção corporal da persona. As entrevistas foram gravadas, transcritas e analisadas sob o prisma microgenético. Três frentes orientaram a construção da análise: os indícios da construção da drag queen, a influência das temporalidades e os aspectos macrossociais. Os resultados indicam o caráter singular de cada drag queen, atravessada por suas temporalidades e sua relação com o meio. São negociadas relações, práticas, linguagens e espaços específicos, tornando única a sua trajetória. Há, também, pontos transversais, associados principalmente a elementos da matriz sócio-histórica, que se referem à disrupção do sistema sexo-gênero, criação de novas formas de ser e fazer drag. Foi possível observar, a dimensão altamente interativa da drag, desde as primeiras montações, no processo de escolha do nome, e durante seu percurso ontogenético. Tal qual o desenvolvimento da pessoa, a trajetória da persona drag queen é multilinear, marcada pela imprevisibilidade e pelo acaso, e pela continuidade e descontinuidade. A maquiagem metaforiza e concretiza esses movimentos não-lineares, assumindo um destaque enquanto processo de montação da persona. Ademais, observamos processos de aproximação e distanciamento na interação entre pessoa e persona. A partir da análise, compreende-se a drag queen como a construção de um novo lugar no mundo, e caracteriza-se a relação entre pessoa e persona como uma dupla via de transformação. Por fim, aponta-se a drag como um processo acontecente, em constante devir.