FESTA COMO ORGANIZAÇÃO: uma Análise Histórico-Decolonial Polifônica do São João Caruaruense
festas; passado; história; decolonialidade; organização; gestão.
Após reiteradas solicitações para que a área dos Estudos Organizacionais
(EOR) se envolvesse com a teoria da história, é possível afirmar que os teóricos
organizacionais fizeram o esforço para introduzir abordagens historiográficas variadas
mediante escolhas onto-epistemológicas distintas. Embora não seja difícil notar que
esse esforço ainda negligencia a alteridade pensada à margem dos teóricos críticos
localizados no Norte Global Ocidental (NGO). Assim, meu argumento central nesta
dissertação é que as abordagens historiográficas introduzidas na área institucional
dos EOR precisam estar engajadas com a opção ético-política da decolonialidade.
Como articulação teórico-metodológica, proponho a Abordagem Histórica Decolonial
Polifônica (AHDP) para co-construir narrativas históricas sobre o passado demarcado
por silêncios impostos ou causados pela colonialidade. Amplio a percepção
epistêmica sobre as formas históricas de organização e gestão que podem ser
entendidas a partir das festas populares enquanto lócus empírico. Duas questões
orientam esta dissertação: (1) Como as festas populares podem ser compreendidas
enquanto lócus de organização e gestão a partir da AHDP? E (2) por que as festas
populares mudam ou preservam determinadas maneiras de organização e gestão no
decorrer da sua história? O contexto empírico da pesquisa foi a festa popular do São
João que caracteriza as festas juninas no Nordeste brasileiro, em especial nas
dimensões socioeconômica e cultural para a cidade de Caruaru, Pernambuco, Brasil.
O método estava engajado aos preceitos teóricos da AHDP, seguindo uma
abordagem qualitativa de incursão etnográfica nos arquivos históricos à luz da
decolonialidade e co-construindo narrativas históricas sobre o passado acessado
através das histórias orais. A contribuição central da pesquisa foi demostrar que
diferentes elementos vistos como “tradicionais” ou “modernos” são hierarquizados
pela colonialidade/modernidade, fazendo com que esses elementos coexistem a partir
de narrativas históricas co-construídas sobre a organização e gestão da festa do São
João caruaruense ao longo do tempo.