A identidade organizacional no organizar do território da feira popular à luz do Circuito da Cultura: o caso da feira de Caruaru em Pernambuco
Estudos Culturais. Circuito da Cultura. Feira de Caruaru. Identidade Organizacional.
A complexidade das realidades multiculturais e a compreensão de que a realidade é socialmente construída têm aproximado os Estudos Organizacionais dos processos de organização sociologicamente estruturados. Nessa direção, argumenta-se que a sociologia enriquece a teoria organizacional, aproximando-a do seu foco primordial: a organização em si. Observa-se uma transição na pesquisa, onde o enfoque tradicional em "tarefas" dá lugar à ênfase contemporânea em "práticas" e "processos". Esse deslocamento epistemológico demanda a reteorização do arcabouço teórico e conceitual do campo. Nesse contexto, o estudo das identidades individuais e organizacionais desperta crescente interesse e questionamentos na área de gestão e organização. Este projeto de pesquisa visa compreender a identidade organizacional da feira popular de Caruaru-PE e a organização dos territórios dos feirantes por meio do instrumento teórico-metodológico do Circuito da Cultura. O modelo proposto por Du Gay et al. (2013) oferece um meio de investigar a dinâmica agência/estrutura e examinar empiricamente a fragmentação da identidade organizacional e as múltiplas identificações dentro de uma organização. No âmbito deste estudo, analisar como sujeitos de culturas populares se identificam com seus territórios envolve também entender como o neoliberalismo delimita a construção da identidade organizacional e como isso impacta, positiva e negativamente, na constituição do espaço e nos indivíduos. Além disso, busca-se compreender como essas articulações moldam a identidade organizacional, possibilitando a existência e manutenção desses territórios no contexto global e local. Frente ao exposto, esta tese se debruça sobre a seguinte questão de pesquisa: como é articulada a identidade organizacional da Feira de Caruaru para o organizar dos territórios de culturas populares? O corpus deste estudo foi fundamentado em recursos linguísticos e incluiu narrativas orais obtidas por meio de entrevistas individuais, bem como documentos oficiais, vídeos e fotografias. A coleta de dados primários foi conduzida empregando um roteiro semiestruturado de entrevistas. Posteriormente, buscou-se enriquecer a pesquisa com informações empíricas secundárias, tanto antes quanto depois da realização das entrevistas. A análise discursiva seguiu oito etapas com base nos estudos de Orlandi (2006) para uma Análise de Discurso. Sendo divididas em dois conjuntos com a finalidade de decifrar as condições de produção do discurso tanto no contexto imediato quanto no contexto sócio-histórico e ideológico mais amplo. A análise dos cinco momentos do Circuito da Cultura: produção; consumo; regulação; identidade e representação; destacou a Feira de Caruaru como uma entidade cultural e organizacional complexa e polimórfica de uma identidade fragmentada, representada sob múltiplas facetas que espelham uma variedade de perspectivas, inclusive antagônicas. Essas representações abarcam desde visões idealizadas, que pintam a feira como um local encantado, até interpretações críticas que a denunciam como um espaço inseguro e tumultuado. As considerações finais desta pesquisa realçam que uma perspectiva ampliada da identidade organizacional pode beneficiar uma variedade de agendas de pesquisa, particularmente: estudos que adotam uma abordagem pós-colonial e investigações que focam em processos. Assim, este estudo sugere que considerar a identidade organizacional dentro do contexto de estruturas de poder, controle e conflito, em conexão intrínseca com a interação entre sujeito e estrutura, é um passo essencial para uma prática de pesquisa consciente e esclarecida na geração de conhecimento científico sobre o tema.