DA MESMA RAIZ, RAMOS DISTINTOS: A “CLADOGENESE” DA FORMACAO EM CIENCIAS BIOLOGICAS E SUAS RECONFIGURACOES SIMBOLICAS NO CAMPO ACADEMICO-PROFISSIONAL
Ciências Biológicas; Mercado de Trabalho; Empregabilidade; Formação de professores; Neoliberalismo.
Esta dissertação, inserida no campo da Educação em Ciências, investiga a clivagem histórica e simbólica entre os cursos de Bacharelado e Licenciatura em Ciências Biológicas, analisando como essa hierarquia se reproduz e reconfigura no campo acadêmico-profissional brasileiro. O estudo parte da premissa de que a distinção entre a formação do biólogo e do professor expressa um arbitrário cultural legitimado institucionalmente, cujos efeitos se projetam tanto nas estruturas universitárias quanto nas oportunidades profissionais. O objetivo geral é analisar de que modo essa hierarquia, historicamente constituída, persiste e se transforma à luz das dinâmicas contemporâneas da universidade e do mercado de trabalho. Para isso, reconstrói-se a trajetória de institucionalização do curso de Ciências Biológicas e mapeiam-se as assimetrias entre os percursos formativos no campo profissional. Adota-se uma abordagem metodológica de natureza mista, articulando procedimentos qualitativos e quantitativos em um desenho multifásico. Na primeira etapa, de caráter convergente, realiza-se uma pesquisa histórico-documental combinada ao exame de séries temporais do Censo da Educação Superior (1995–2023), visando à reconstituição da gênese e consolidação da dicotomia entre as modalidades. A segunda etapa, de natureza exploratório-sequencial, parte de uma revisão integrativa que, ao diagnosticar lacunas sobre a empregabilidade, subsidia a elaboração de um levantamento documental composto por 574 editais de concursos públicos federais e estaduais (2013–2023). Os resultados revelam que a hierarquia simbólica instituída na universidade converte-se em desigualdades materiais no mercado de trabalho. A reconstrução histórica mostra como a primazia do saber técnico-científico sobre o pedagógico foi consolidada desde o modelo “3+1”, reproduzindo-se mesmo após a cisão formal entre as habilitações. A cartografia estatística evidencia que a Licenciatura se tornou o principal vetor de expansão do ensino superior, especialmente via Ensino a Distância (EaD) e setor privado, enquanto o Bacharelado manteve um crescimento mais contido também dominado pelo setor privado. No campo profissional, a Licenciatura concentra 92,8% das vagas em concursos públicos, porém associadas a salários sistematicamente inferiores. O Bacharelado, ainda que com baixa oferta, acessa nichos de maior prestígio e remuneração. Conclui-se que a clivagem entre bacharéis e licenciados não apenas persiste, mas é reatualizada pelas dinâmicas neoliberais que mercantilizam a formação e fragilizam a promessa de mobilidade social do diploma. Ao articular fundamentos teóricos e dados empíricos, o estudo contribui para desnaturalizar as hierarquias acadêmico-profissionais no campo das Ciências Biológicas, oferecendo subsídios críticos à reflexão sobre a formação superior e suas reconfigurações simbólicas no Brasil contemporâneo.