GENERO E IDENTIDADES EM TEMPOS DE CRISE: RELATOS DE PROFESSORAS DE EDUCACAO FISICA DO ENSINO FUNDAMENTAL DO RECIFE DURANTE A PANDEMIA
Educação Física; pandemia; docência; gênero; ensino remoto; precarização.
A presente dissertação investiga os impactos do ensino remoto emergencial no contexto da pandemia de COVID-19 sobre a docência em Educação Física, com especial atenção às professoras da rede pública de ensino. A partir de uma perspectiva crítica fundamentada na Análise do Discurso, em diálogo com Eni Orlandi e Judith Butler, analisa-se como a pandemia evidenciou e acentuou desigualdades históricas de gênero no trabalho docente. A pesquisa tem como lócus as experiências de mulheres professoras que, além de enfrentarem a adaptação forçada ao ensino remoto, sem a devida infraestrutura e formação tecnológica, foram também sobrecarregadas pelas demandas domésticas e familiares. Em um contexto de desvalorização da profissão docente, precarização das condições de trabalho e ausência de políticas públicas efetivas, a Educação Física, tradicionalmente ancorada em práticas corporais presenciais, foi especialmente desafiada a se reinventar. Os relatos analisados revelam como as docentes articularam suas trajetórias profissionais e subjetivas diante de múltiplas jornadas, em uma conjuntura que escancarou a divisão sexual do trabalho e os efeitos psicossociais da sobrecarga feminina. Ao dar visibilidade às narrativas dessas mulheres, esta pesquisa evidencia como a docência se configura em um campo de disputas simbólicas e materiais, sendo atravessada por marcadores sociais de diferença que impactam diretamente na vivência do trabalho educacional. Conclui-se que a pandemia não criou novas desigualdades, mas expôs e aprofundou as já existentes, sendo fundamental repensar políticas educacionais que considerem as interseccionalidades de gênero, classe e raça na valorização da educação pública e na promoção da justiça social.