MASSACRES ESCOLARES NO BRASIL: a violência extrema às escolas em uma perspectiva arendtiana
Hannah Arendt. Violência. Educação. Massacres escolares. Mundo comum.
O presente trabalho tece uma reflexão, enquanto exercício metateórico, sobre o fenômeno da violência extrema nos massacres escolares a partir de uma abordagem arendtiana. Para isso, a noção de violência pensada pela filósofa alemã Hannah Arendt será fundamental, visto que dela partirá toda a discussão que envolve esta tese, sem desprezar a necessidade de se recorrer às experiências de violência na realidade social, bem como a outros conceitos criados pela pensadora. A reflexão sobre a própria violência, em suas conexões conceituais e fenomênicas, auxilia em uma maior compreensão sobre uma de suas manifestações mais comuns, que é a violência às escolas. Um olhar cuidadoso para a escola aponta que a manifestação dessa violência está longe de ser superada, pois tem crescido abruptamente desde o início dos anos 2000. A preocupação no seio das escolas, dos governos, das universidades e da sociedade civil se acentua, mobilizando recursos e pesquisas em torno do dilema. Em vista disso, a presente tese tem como objetivo geral: Compreender a concepção de violência no pensamento de Hannah Arendt e sua contribuição frente à violência extrema às escolas no contexto atual brasileiro. E como objetivos específicos: a) Refletir sobre a noção de violência no pensamento arendtiano; b) Discutir a configuração da violência extrema às escolas, examinando alguns fatores que favorecem o seu surgimento; c) Elucidar as contribuições do pensamento arendtiano para uma possível reconciliação frente à violência contra as escolas. A metodologia que orienta essa pesquisa é inteiramente bibliográfica, uma vez que todo material utilizado é composto por textos. O uso da técnica da hermenêutica vem assegurar fidedignidade à interpretação desses materiais. A busca por uma compreensão fundamentada hermeneuticamente procura trazer à luz o genuíno sentido do que se é estudado. Já que compreender é, antes de tudo, apreender o sentido a partir de uma compreensão humana, objetiva, prática, histórica e da natureza (Coreth, 1973). Esse percurso metodológico deu condições de pensar as partes da pesquisa como diálogos que possibilitam a travessia perante toda a tessitura da tese. Partes essas que não são estanques, mas um movimento comunicativo. Para mais, a pesquisa foi dividida em quatro momentos que se complementam, mesmo mantendo a liberdade da escrita ensaística. Percebe-se, desse modo, a holisticidade não só do conteúdo exposto e sua interpretação, mas também da própria forma do trabalho escritural. Por fim, o trabalho aponta para alguns achados: a violência às escolas tem crescido nos últimos anos, sobretudo, em paralelo ao avanço de agendas autoritárias enquanto elementos totalitários subsistentes; há um esfacelamento do mundo comum e uma ruptura da tradição e autoridade, conceitos fundamentais no pensamento arendtiano; a violência às escolas guarda uma relação com a banalidade do mal; o perdão e a promessa enquanto caminhos possíveis para uma convivência mais suportável após eventos traumáticos de violência; dentre outros achados. Tratar desse problema é uma atitude que não diz respeito apenas aos indivíduos implicados, visto que a violência que acomete o âmbito da escola é de responsabilidade de toda uma comunidade política, pois atinge sua pluralidade. Finalmente, a resposta à pergunta que mobiliza essa pesquisa, como a perspectiva arendtiana pode contribuir para a compreensão das manifestações da violência extrema às escolas no atual contexto brasileiro, leva-nos a refletir qual o mundo que queremos entregar aos novos e aos jovens.