NA PRECARIZACAO, O GOVERNAR: DISCURSOS FILANTROPICOS-NEOLIBERAIS E DIFERENCA NO CURRICULO
neoliberalismo; nova filantropia; currículo; diferença.
A tese investiga a atuação da nova filantropia – expressão contemporânea do Terceiro Setor – na reconfiguração das políticas curriculares brasileiras, a partir da articulação entre racionalidades neoliberais e a instrumentalização das categorias de gênero, sexualidade e raça em regimes de gestão e controle. Sob a lógica da nova filantropia, interesses privados têm interpelado o campo educacional com uma retórica de justiça e qualidade, que reposiciona a diferença não como categoria de dissenso político, mas como recurso discursivo submetido ao regime da accountability, nas disputas hegemônicas em torno do currículo. O trabalho fundamenta-se na Teoria Política do Discurso de Ernesto Laclau e Chantal Mouffe, que compreende a constituição da realidade como discursiva, precária e contingente. O corpus é composto por fragmentos discursivos de guias produzidos pela Fundação Lemann e pelo Instituto Unibanco; textos jornalísticos do movimento Todos pela Educação; episódios do podcast Gente que impacta, da Fundação Lemann, e da websérie Afrocaminhos: juventudes negras e educação, do Instituto Unibanco. A análise ressaltou que a diferença tem seu significado disputado e reinscrito por uma racionalidade neoliberal que a subordina a lógicas de controle. Essa reinscrição opera por meio de lógicas sociais e fantasmáticas que, mesmo mobilizando vocabulários como “inclusão” e “equidade”, visam interditar processos de diferenciação. As organizações da nova filantropia constroem a imagem de uma “educação a ser salva” e se posicionam como seus salvadores legítimos, articulando um ethos de autoridade moral e técnica e mobilizando afetos e desejos como tecnologias de influência, através de performances de “escuta” e “empatia”. Nesse cenário, a precarização do currículo não se manifesta como ausência, mas como presença espectral: uma captura da diferença e uma performatividade da equidade que atuam na despolitização do dissenso. Trata-se de uma reinscrição do currículo como tecnologia de controle, que não o anula, mas o reconfigura sob a lógica da governamentalidade neoliberal.