A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DA PESSOA SURDA NA ERA DIGITAL: OPORTUNIDADES E DESAFIOS DAS CONEXÕES VIRTUAIS
Palavras-chave: Identidade surda; Inclusão digital; Etnografia digital; Acessibilidade;
Figuração social.
Este estudo investiga a formação identitária das pessoas surdas no contexto digital e seus
reflexos no pertencimento e reconhecimento social, examinando os entraves estruturais e
simbólicos que impedem sua plena inserção na sociedade contemporânea. Historicamente, essa
construção foi marcada por relações de poder e práticas excludentes, evidenciadas desde a
institucionalização do ensino especializado. No século XIX, abordagens oralistas e políticas
eugênicas visaram assimilá-las à cultura dominante, desvalorizando a língua de sinais e
restringindo sua autonomia, o que intensificou a marginalização por meio de discursos médicos
e pedagógicos. Em contraposição, a resistência da comunidade possibilitou a formação de redes
próprias, reforçando vínculos culturais e reconhecendo a surdez como expressão linguística e
sociocultural distinta. No século XX, os avanços nos estudos linguísticos e sociais contestaram
visões patologizantes, consagrando a importância da língua de sinais para a comunicação. Na
contemporaneidade, as plataformas digitais ampliam a visibilidade desse grupo, promovendo
espaços de difusão de narrativas e fortalecimento identitário, embora desafios quanto à
acessibilidade e equidade digital permaneçam. Diante desse cenário, esta pesquisa examina
como as interações mediadas por tecnologias colaboram para a construção identitária e de que
forma obstáculos estruturais e simbólicos restringem os processos inclusivos, perpetuando a
exclusão. A abordagem metodológica é qualitativa, fundamentada na etnografia digital (Hine,
2000; Pink et al., 2016) e contempla o levantamento de dissertações e teses que exploram a
relação entre surdez e tecnologia. A análise das postagens em redes sociais será orientada pela
Gramática do Design Visual (Kress e Van Leeuwen, 2006), possibilitando uma leitura
aprofundada dos significados representacionais, interacionais e composicionais. Ademais, os
conceitos de Norbert Elias (1994) acerca da figuração social, dinâmicas de poder, sociogênese
e psicogênese embasam a compreensão dos processos de exclusão e pertencimento. A análise
de conteúdo seguirá o método de Bardin (2011) e, para aprofundar a investigação, serão
realizadas entrevistas semiestruturadas com dez influenciadores surdos, selecionados com base
em critérios de engajamento temático, impacto social e diversidade de experiências. A coleta
de dados observará diretrizes éticas, garantindo a acessibilidade por meio da mediação de
intérpretes e a representação fiel dos depoimentos. Espera-se que os resultados ampliem o
entendimento sobre o impacto das interações digitais na construção identitária, evidenciando
tanto possibilidades quanto desafios desse ambiente, e contribuam para o debate sobre inclusão
digital e políticas de acessibilidade, ressaltando a importância de estratégias que promovam a
participação equitativa nos espaços digitais e sociais.