SINAIS DE AFETO EM CONTEXTO DE VOZES SILENCIADAS: MANGA COMO LUGAR DE SUBJETIVACAO SURDA
História em Quadrinhos; Mangá; Cultura Surda; Pedagogias Culturais; Processos de Subjetivação.
O presente estudo se propôs a investigar como os mangás A Voz do Silêncio (2020) e Um Sinal de Afeto (2024) mobilizam discursos que operam nos processos de subjetivação de sujeitos surdos, a partir da perspectiva que enxerga o mangá como um lugar de aprendizagem. A partir da hipótese de que os mangás constroem sentidos sobre identidade e diferença, analisam-se as personagens Nishimiya Shouko e Yuki Itose, observando como suas vivências surdas são traçadas nas narrativas. Assim, entendendo o mangá como um artefato cultural que participa da produção de saberes, afetos e sujeitos, a fundamentação teórica estabelece diálogos com os Estudos Culturais em Educação e os Estudos Surdos, abordando as noções de cultura, pedagogia e sujeito, além de caracterizar o mangá como pedagogia cultural, com apoio na discussão de Elizabeth Ellsworth. No percurso metodológico, adota-se uma perspectiva pós-estruturalista, compreendendo a prática de pesquisa como um processo de bricolagem. A análise do discurso de inspiração foucaultiana é utilizada como ferramenta para adentrar e interrogar os vazios e os discursos mobilizados nas obras, as quais também são contextualizadas neste momento. Os resultados encontrados evidenciam uma ambivalência histórica e social, na qual as narrativas dialogam com a historicidade da sociedade japonesa e com os modos de percepção da diferença — ora como bênção, ora como maldição. Ainda que predomine uma concepção patologizante da surdez, identificam-se passagens que valorizam aspectos da cultura surda, como a presença da língua de sinais, da comunidade surda e de reflexões sobre inclusão/exclusão. Nesse sentido, a pesquisa aponta possibilidades de ampliação do debate, seja por meio da análise de novos artefatos culturais articulados aos Estudos Surdos, seja pela escuta de vozes historicamente silenciadas, em direção a uma educação que reconheça a diferença e que permita que os sinais de afeto das pedagogias culturais nos atravessem.