SONHANDO O (IM)POSSIVEL: o mito sacrificial como gestao e inteligibilidade moderno-colonial-neoliberal do sofrimento nas margens
Gestão dos afetos; Mulheres negras periféricas; Mito sacrificial; Sofrimento; Inteligibilidade.
Esta pesquisa investiga narrativas de redenção e vitória que circulam na comunicação comunitária de mulheres negras periféricas evangélicas na comunidade Nossa Prata (Maranguape II, Paulista), tomando a comunicação como esfera existencial-vinculativa na racionalidade neoliberal, na qual a empresa é um modo de subjetivação (SODRÉ, 2014; DARDOT; LAVAL, 2017). Considera-se o mito sacrificial, design crístico guiado pela autopossessividade e interioridade de um herói que persevera no sofrimento para alcançar a boa vida (MENDES, 2009; CAMPBELL, 2007), como modo hegemônico de narração, e analisa-se o papel das ficções de poder e dos poderes da ficção (MOMBAÇA, 2016) na orientação do desejo dessas mulheres. Adota-se a Abordagem de de/codificação composicional (HALL, 2003; FERREIRA DA SILVA, 2019; 2020) para investigar posições de leitura na recepção, hegemônico-dominante, negociações e de oposição, visando compreender como o sofrimento evangélico e sua lógica sacrificial participam da manutenção do neoliberalismo a partir das margens do Estado (CÔRTES, 2022) e como emergem estratégias de resistência, oposição e absorção desse código. A pesquisa parte da experiência de desconversão do pesquisador e do diálogo com relatos obtidos em entrevistas em profundidade e cine-debates sobre histórias de superação, como Coleção Bíblia – José (1995) e José do Egito (Rede Record). Reflete-se sobre como a linearidade teleológica do mito sacrificial opera como gestão neoliberal dos afetos (SAFATLE et al., 2023) e reproduz a dialética racial (FERREIRA DA SILVA, 2019).