Resgate histórico e imagens em formação: afinidades em segredo no cinema de Víctor Erice.
cinema; Víctor Erice; história; visualidade; imagem.
A dissertação tem como o seu objeto de estudo o cinema do espanhol Víctor Erice, objetivando uma compreensão de suas relações com a história. Para isso, elenca como os elementos que compõem o corpus da pesquisa o longa O Espírito da Colmeia (1973) e o curta Alumbramiento (2002). Os filmes estão situados temporalmente na aurora do Regime Franquista, logo após o fim da Guerra Civil Espanhola, sendo ambientados geograficamente em vilarejos que se encontram na zona rural do Norte do território do país. A nossa hipótese de trabalho é de que as suas imagens, embora consistam em representações ficcionais do passado, são renegociadas por estratégias que tensionam o naturalismo da representação. Com a intenção de sustentá-la, afirmamos que é como se o cinema de Erice se relacionasse com a história em termos de uma experiência que constituem, arriscando-se mutuamente as partes nesse processo e recusando um essencialismo de “forma” e “conteúdo” a ser transposto nos filmes. Morfologicamente, argumentaremos que isso acontece através de fricções das fronteiras entre as formas narrativas através das quais as suas imagens se desdobram, como os registros do realismo e da fantasia, de modo que se estabelecem relações de intimidade entre os elementos heterogêneos que as convencionam, como os acontecimentos reais contemporâneos à realização e os substratos ficcionais que tramam as narrativas. Instrumentalizando a discussão de Jean Louis Comolli sobre os desvios nos sistemas de representação cinematográfica, as análises de Carl Einstein e Georges Bataille sobre uma “dialética - sem síntese - das formas” que sobredetermina e implica com anacronismos a experiência visual, e a categoria de apreensão do tempo histórico que Walter Benjamin nomeia de “origem”, defenderemos que o cinema de Erice, através de sua morfologia imagética, revela e produz no seu resgate histórico “afinidades em segredo” entre uma Espanha que viu a aurora do Regime Franquista e a que se esforça para se colocar em termos com o seu eclipse.