JORNALISMO INVESTIGATIVO E PARTICIPAÇÃO CIDADÃ: caracterização e efeitos em reportagens investigativas
Jornalismo Investigativo; Participação Cidadã; Newsmaking; Democracia; Jornalismo Online.
Refletir acerca da prática profissional jornalística em meio ao contexto atual que envolve a popularização da Internet e a disseminação das redes sociais digitais é por si só uma tarefa desafiadora, não apenas diante da complexidade que engloba o tema, como também pelas mutações que este processo enseja nas relações entre seus diversos atores e na própria atividade jornalística. Não se pode pensar, nos dias de hoje, em relações estáticas, unilaterais, com fronteiras delineadas e constantes, conforme sugeriam os primeiros estudiosos do estado da arte do jornalismo. Em tempos de maior interatividade e convergência midiática, as relações entre jornalistas e cidadãos extrapolam a mera vinculação entre emissores únicos e sua audiência inerte, apática, tornando os processos de produção e de consumo de informações polos cada vez menos opostos no âmbito da comunicação. Dessa forma, no universo digital, cidadãos acabam compartilhando funções antes restritas aos profissionais jornalistas, ocasionando tensões sobre a própria razão de ser do jornalismo e gerando novos desafios à prática profissional. Se no âmbito do jornalismo cotidiano há uma gama de lacunas que ainda necessitam ser preenchidas sobre a temática, a proposta desta pesquisa é compreender essa participação, no contexto do jornalismo investigativo, diante de todas as suas especificidades técnicas e éticas. Isto posto, a partir de uma discussão teórica que engloba o processo de produção jornalístico, conforme a teoria do newsmaking e sob uma perspectiva construtivista, foi levantada a seguinte questão de tese: Considerando o cidadão um dos atores da construção social da realidade, assim como partícipe ativo, efetivo e potente do processo de produção de notícias, como se caracteriza tal participação no contexto da elaboração de reportagens investigativas? Para auxiliar na busca por respostas à questão, foram definidos, como secundários, os seguintes objetivos/metas: (1) identificar as fases em que acontece a participação cidadã; (2) caracterizar esta participação, buscando detectar se ela acontece de forma direta ou indireta, além de compreender como e a partir de quais meios ela acontece; (3) assimilar quais as interferências e possíveis riscos que esta participação implica diante das especificidades do jornalismo investigativo; e (4) comparar como se dá a participação cidadã em cada veículo de comunicação analisado, a fim de identificar semelhanças e diferenças no que se refere à forma de atuação e à localização de cada veículo. A proposta é analisar reportagens investigativas publicadas no ano de 2022, nos portais O Estado de São Paulo, The Intercept Brasil e Marco Zero Conteúdo.