FILMES, IYÁS E O CINEMA DAS ENCRUZILHADAS: construindo um sentido afrobrasileiro e matripotente para o cinema
Cinemas negros; Mulheres negras; Filosofias africanas.
Muito antes da chegada dos colonizadores no século XIX e da imposição dos paradigmas ocidentais em África, os povos Iorubá, localizados na região Oeste do continente, viviam suas experiências de vida e cosmopercepção baseados na senioridade e na matripotência, ou seja, numa hierarquia sociocultural que obedecia, respectivamente, ao reconhecimento da experiência a partir do tempo de vida e a gestação e integração à comunidade negra guiada pelo princípio feminino da criação. Em busca de fazer uma leitura descolonizante sobre o cinema brasileiro contemporâneo, este trabalho conta histórias outras sobre o cinema a partir de África, da diáspora negra no mundo e das mulheres negras, africanas e afrobrasileiras, cujas criatividades se transformaram em formas de viver e resistir à colonização/colonialidade. Para tanto, utilizamos fontes de pesquisa diversas (filmes, livros, reportagens, sites, dentre outros documentos), entrevistas-narrativas com mulheres negras “mais velhas” (acima dos 45 anos), cineastas e também trabalhadoras do cinema em Pernambuco. A escuta dessas mulheres de cinema visou transpassar suas memórias junto às movimentações cinematográficas de suas carreiras que as destacam como pioneiras e lideranças na área. Além disso, abordaremos história e teoria do cinema sob uma crítica do despercebido pela história oficial e que valoriza a pluriversalidade das narrativas, nas quais daremos ênfase à criação do “cinema das encruzilhadas”. Essas mulheres também serão tomadas aqui a partir do sentido amplo e transcendente dado à Iyá pelos povos Iorubá: a mãe procriadora e educadora da humanidade.