Necroperformatividade: uma genealogia da política de morte contra LGBTI+ a partir da censura a performances artísticas e seus impactos na comunicação digital
Necropolítica; Censura; Performatividade; Genealogia, Redes Sociais.
Este trabalho tem o objetivo de compreender a existência de um fenômeno social, que se estabelece por meio de uma política de morte direcionada a corpos e performances LGBTI+ no Brasil contemporâneo e se verifica nos espaços de mídia da Comunicação digital. Esta necropolítica (Mbembe, 2018) está inserida numa performatividade (Butler, 2018b) de caráter anti-LGBTI+ socialmente contruída no país, que se estrutura
politicamente, economicamente e culturalmente de modo a promover a negação da existência e a promoção da morte simbólica e/ou física de corpos e subjetividades LGBTI+. A investigação mobiliza uma aplicação da genealogia proposta por Foucault (2001; 2014) dessa necropolítica a partir de casos de censura (Orlandi, 2007) a performances artísticas LGBTI+ ocorridos no Brasil entre 2017 e 2022. Dez casos foram selecionados para uma análise que de desdobrou em três instâncias de coleta e observação: 1) o portal do Observatório de Censura à Arte; 2) Os dez portais de notícia de maior audiência do país no período considerado; e 3) as possíveis reverberações nas redes sociais digitais, caracterizadas pelo debate público marcado sobretudo pelo discurso de ódio. A análise genealógica desses casos, aqui considerados acontecimentos (Quéré, 2005; 2011), teve como resultado o entendimento de que se trata de um fenômeno complexo fundado no neoliberalismo e no conservadorismo da população brasileira, fortalecido especialmente por ideologias concentradas em discursos religiosos, partidários, anticientíficos e promotores de violência simbólica e física. Diante desse cenário, o estudo desenvolvido culminou com a proposição de um conceito de necroperformatividade, termo aqui proposto, que constitui uma expressão própria e derivante da necropolítica. Em última instância, o conceito de necroperformatividade se desdobra e se aplica a outros corpos e expressões dissidentes ou fora da heterocisnormatividade, bem como de outras normatividades sociais que exercem perpetuação de relações de poderes no Brasil e no mundo.