Quem diz chacina diz o quê? A configuração do acontecimento violento em relatos eventivos
Acontecimento. Configuração. Relato eventivo. Violência. Chacina
Como ocorrência concreta e parte dos saberes sobre violência e segurança pública no Brasil, o tema das chacinas,
especialmente, aquelas perpetradas por agentes vinculados ao Estado, tem suscitado o reexame das múltiplas facetas que envolvem o fenômeno. Encaramo-las aqui pelo ponto de entrada dos estudos de acontecimento,
considerando-as como tal justamente pelo caráter de experiência pública e ação coletiva em seu entorno, que nos leva a falar em configuração do acontecimento ao levarmos em conta um intenso trabalho interpretativo/explicativo para aquilo que se passou. Para tanto, realizamos um estudo daquela que ficou conhecida como a Chacina de Belém, ocorrida na capital do estado do Pará, em 4 e 5 de novembro de 2014, acompanhando um ano de reverberação a seu respeito em textos publicados na internet. O aparato teórico-metodológico integra a noção de percurso acontecimental, uma metodologia nativa aos estudos de acontecimento, à proposição de relatos eventivos, como parte das formas que esse trabalho sobre o acontecimento assume. Além da preocupação com essa configuração eventiva, também nos interessa inserir a leitura sobre essa chacina em um quadro social mais amplo, que leve em conta sua caracterização como violência racializada e terrorismo de Estado contra a população negra, buscando compreender como estes aspectos são evidenciados ou escamoteados ao longo das operações que têm lugar no processo de acontecimentalização.